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Netflix e iTunes, na mira do fisco

Cumprindo o que prometera durante o Congresso da ABTA, no início de agosto, o presidente da Ancine, Manoel Rangel, determinou que as empresas de internet que oferecem filmes sob demanda paguem a Condecine. Esta é a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional, aprovada em 2008, mas que, na prática, só começou a ser recolhida de fato a partir de 2012, ao ser regulamentada. Significa que os serviços mais acessados hoje para locação de filmes online – Netflix e iTunes, além do Now, da Net – passam a ser tributados, como já acontece com as operadoras de TV por Assinatura.

Segundo o site Tela Viva, as empresas já foram notificadas. A Ancine quer ver o registro de todos os títulos oferecidos por elas; para obter esse registro, a burocracia brasileira exige o recolhimento da Condecine. O site fez as contas: cada título registrado custa R$ 3 mil, e cada episódio de série, R$ 750. Empresas com grandes acervos de filmes e séries, como é o caso, podem ter de pagar até R$ 50 milhões! Duvido que as três paguem caladas. No mínimo, teremos aí uns bons meses de ações judiciais e liminares.

Na ABTA, lembro que Rangel ameaçou mesmo iniciar a cobrança. “Não abrimos mão de nenhum serviço de distribuição de conteúdos audiovisuais”, disse ele. “Para nós, quanto mais serviços desse tipo, melhor. Todos conviverão e se fortalecerão mutuamente. Esses serviços também deveriam ser operados de território brasileiro, valorizando o conteúdo nacional”.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi ainda mais patético: “Somos como um paraíso fiscal: essas empresas prestam serviço no Brasil e não pagam impostos. O dinheiro vai direto para os EUA.” Só lembrando: no evento da ABTA, o ministro deu prazo de quatro meses para Ancine e Anatel apresentassem um plano de tributação para esses casos. Pelo visto, a Ancine nem quis esperar tanto tempo…

Traduzindo: como sempre, estamos de olho no dinheiro dos outros! Em off, o próprio Rangel admitiu que o governo não sabe como cobrar, ou melhor, não sabe o que fazer caso as empresas estrangeiras não paguem. Tirá-las do ar? Como, se qualquer pessoa pode entrar no site americano? Proibi-las de terem sedes no país? Só vai gerar desemprego e menos investimento. Pior de tudo, a meu ver: antes de criar esse tipo de tributo indecente, ninguém foi perguntar a opinião dos usuários. Aguardemos as reações deles nas redes sociais.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • "(...) ninguém foi perguntar a opinião dos usuários.""

    Se fossem ouvir a opinião dos usuários, órgãos como a Ancine nunca chegariam a existir.
    Esperemos que isso morra sem impactar os ótimos serviços prestados por empresas como Netflix. Caso vingue a nova tentativa de assaltar os brasileiros, que as empresas prestem o serviço a partir dos EU e fechem as portas por aqui.

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Orlando Barrozo

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