Televisão não para de crescer

O velho Millôr Fernandes sempre foi cruel com a televisão. Não sei se foi dele a definição “máquina de fazer doido”, mas, se não foi, deve ter sido por falta de tempo. Certa vez, ao ouvir que as pessoas assistiam televisão para fugir à realidade, Millôr sapecou: “E como eu faço pra fugir da televisão”?

Lembrei do mestre hoje ao ver os novos dados oficiais sobre a penetração dos TVs pelo mundo afora. Estão no relatório oficial da UIT (União Internacional de Telecomunicações), órgão ligado à ONU – na verdade, a sigla original é ITU, mas no Brasil ninguém gosta de usá-la, talvez para não confundir com a cidade paulista onde – dizem – tudo é grande. O principal número divulgado: o percentual de residências com televisores digitais no mundo chegou a 55% em 2012, ultrapassando pela primeira vez o índice de aparelhos analógicos.

No total, temos 1,4 bilhão de domicílios com a tal maquininha que Millôr odiava (aliás, não só ele: Groucho Marx dizia que a televisão estimulava a cultura, pois toda vez que alguém ligava o aparelho ele ia para o quarto ler um livro…). Esse número equivale, segundo a UIT, a 80% dos lares existentes no planeta.

Até aí, nenhuma surpresa. A digitalização é irreversível mesmo. Para mim, mais importante é um outro dado revelado no relatório: de 2008 para 2012, caiu de 51% para 39% a porcentagem de famílias que abandonaram a TV aberta para aderir à fechada. “Abandonaram”, claro, é força de expressão: ninguém deixa de assistir à Globo só porque comprou uma assinatura da Net, por exemplo. Mas os números comprovam que cada vez mais pessoas estão procurando a diversidade de opções, para fugir à semiditadura da TV aberta.

Se estivessem vivos, quem sabe Millôr e Groucho não se animassem a pelo menos dar uma zapeadinha?