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Me engana que eu gosto!

Neste fim de semana, a presidente Dilma Roussef – agora em fase “tecnológica”, por sugestão de seus marqueteiros – tuitou mais uma daquelas ordens típicas de quem nem faz ideia do que está falando. “Determinei ao Serpro a implantação de sistema seguro de e-mails em todo o governo federal.” Incrivelmente, a mídia especializada replicou a informação como se nada houvesse de estranho (vejam aqui, por exemplo).

Coube a um jornalista da área política, e dos melhores (Ricardo Noblat), colocar as coisas nos seus devidos termos, usando sua página no Facebook – com ajuda, aliás, de leitores que sabem muito mais sobre o assunto, pelo visto, do que Dilma e seus assessores. Não poderia ser mais claro, ao que acrescento:

1.Não existe sistema seguro de emails, nem aqui, nem nos EUA, nem na China;

2.99% das redes existentes no Brasil, inclusive no governo, são gerenciadas via softwares de procedência estrangeira, notadamente americana, e não existem similares nacionais;

3.O governo dos EUA, como já dissemos aqui, vigia permanentemente governos e empresas de outros países, usando para isso os dispositivos mais avançados e não poupando recursos financeiros. Vai continuar a fazê-lo;

4.Todos os governos de países importantes, inclusive do Brasil, vigiam outros com quem têm ou pretendem ter relações políticas, comerciais, militares etc. Alguns fazem isso melhor do que outros, e não por acaso são aqueles que mais investem em educação básica;

5.Se quisesse, de fato, melhorar ou deixar mais protegidas as redes brasileiras, o governo deveria começar contratando profissionais e empresas qualificadas – e, mais uma vez, sorry, as melhores são estrangeiras;

6.E, se quisesse qualificar profissionais brasileiros, teria que gerenciar melhor os investimentos em educação e acabar com a corrupção e a politicagem nas nomeações para cargos ligados à área.

Enfim, o tuíte de dona Dilma pode ter rendido vários retuítes, comentários nas redes (há milhares de pessoas sendo pagas justamente para replicar esse tipo de asneira), mas nem chega perto de uma solução para a precariedade de nosso sistema de telecom. Só vai servir, mesmo, para ser usado na campanha eleitoral e enganar, pela enésima vez, quem gosta de ser enganado.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Parabéns pelo texto lúcido e realista, não aguento mais ouvir políticos, jornalistas e analistas falarem besteira, como se soubessem do que não sabem.

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