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TV digital acaba com o Ginga

“TV nipo-japonesa”: é como se refere o jornalista Gustavo Gindre ao padrão da televisão digital brasileira (SBTVD), derivado do japonês ISDB-T. Num belo artigo publicado esta semana no também excelente blog Notícias da TV, Gindre afirma que acaba de ser eliminado o único traço de brasilidade existente no padrão: o middleware Ginga, que permite recursos de interatividade pela TV. O governo federal, único que poderia obrigar a implantação, simplesmente desistiu. Foram demais as pressões das emissoras abertas, essas capitanias que controlam tudo no bilionário mercado brasileiro de televisão.

A notícia não chega a ser propriamente nova. Comentamos sobre isso aqui algumas vezes, a última delas em fevereiro de 2012. Estava claro então que o Ginga era, na prática, uma enganação. Ou, explicando melhor, uma forma (capenga, é verdade) de justificar a adoção do padrão japonês, após uma disputa onde houve de tudo – de chantagens a manipulação criminosa de dados, e sabe-se lá mais o quê. Na versão oficial, decantada pelo então presidente Lula, o Ginga seria a grande contribuição brasileira no mundo da tecnologia de televisão: um sistema operacional desenvolvido no Brasil, altamente eficiente, a ser copiado por todos os outros países.

Membros da Academia, pesquisadores independentes e desenvolvedores acreditaram, e se animaram a produzir uma série de aplicativos baseados naquela joia. Descobriu-se depois que seu custo era inviável, já que rodava sobre Java, patente da americana Oracle. Ainda assim, o governo obrigou os fabricantes a embutir Ginga em todos os TVs, o que hoje ocorre em 80% dos modelos produzidos no país (até 2015, serão 100%).

Enfim, um delírio completo. Como já afirmavam vários especialistas que entrevistamos a partir de 2008, quando começaram as transmissões do SBTVD, interatividade na TV não foi levada a sério em nenhum país do mundo. Japoneses, alemães e americanos, que desenvolveram cada um seu padrão para TV digital, sequer se preocuparam com isso. Não há por que, quando se sabe que o destino da TV é se conectar à internet, onde o usuário dispõe da máxima interatividade possível e imaginável!

Fica agora a pergunta no ar: quem vai ressarcir as centenas de pequenas empresas que acreditaram na palavra do presidente da República e investiram no Ginga? Alguns desses empreendedores aplicaram todas as suas economias no projeto. Foram ludibriados, mais ou menos como os poupadores da caderneta no governo Collor, até hoje à procura da devolução de seu pobre dinheirinho.

Lamentavelmente, o Ginga é apenas um, entre inúmeros exemplos de como ciência e tecnologia são (mal)tratados no Brasil, e cada vez mais. Péssimo exemplo do que acontece quando política e tecnologia se misturam. A conta, pagamos eu, você e todos os que ainda insistem em ser contribuintes.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

View Comments

  • Olá.
    Acho que não confere com a realidade.
    O artigo mostra opiniões, mas alguém foi conferir?
    Nenum país?
    Acho bom olhar pra Itália.
    Muitas emissoras no Brasil já tem várias interatividades.
    O governo abandonou o Ginga?
    Fala sério, o que então o projeto 4D?
    Ontem, 28/01/2014
    Campus Party: TV digital pública vai beneficiar famílias mais pobres, diz professora
    http://www.ebc.com.br/tecnologia/2014/01/projeto-brasil-4d-e-apresentado-ao-publico-da-campus-party

    Olhe também para o Japão, tem várias novidades que foram copiadas do Ginga.
    Enfim, desinformação sempre favorece alguns.

    • Olá Carlos, se você se identificar - é o que se deve fazer quando se critica ou se acusa alguém - podemos responder suas indagações. Obrigado. Orlando

  • Realmente,Lula delirou quando em sua característica megalomania acho que o Ginga iria mudar o mundo.Delirou também(e continua)quando disse que na crise mundial o Brasil só sofreria uma" marolinha"e sempre que se referia à sua própria "magnanimidade"dos"nunca antes na história deste país".Continuam os PeTralhas delirando quando dizem que no Brasil está tudo bem,não falta nada,enquanto constroem porto"padrão FIFA" e dão ajudas bilionárias à Cuba,,enquanto perdoam dívidas milionárias de governos africanos genocidas..Enquanto aqui,a violência toma conta do País...

  • Eu não entendo quase nada de tecnologia da informação, mas penso (ainda posso pensar?...) que o padrão GINGA (que nome esquisito para uma tecnologia tão sofisticada, parece novo ritmo de música de carnaval...) pode sim ser muito útil, junto com a internet e outros recursos das SmartTV. A REDE VIDA utiliza o padrão GINGA para oferecer seus produtos, bastando para tanto apertarmos o botão azul do R.C. ou o vermelho para sairmos do sistema. O que está faltando é boa vontade das "poderosas" em utilizar o sistema com um "set up" bem implementado para que não ocorra o incômodo da associada da TV Globo em Uberlândia que ao tentar "implantar" apressadamente o sistema por aqui, o TV ficava travado, a gente não conseguia clicar mais em nenhum ícone ou canal, e o TV tinha que ser desligado para a gente sair do tal GINGA carnavalesco, e eles não deram nenhuma explicação dos "porquês" dos problemas e das falhas na sua implantação, e de repente tudo acabou, assim, como num passe de mágica! Lamentável esse acontecimento porque eu achei muito interessante e promissora a iniciativa deles em tentar implantar o GINGA, primeiramente em Uberlândia, mas desistiram sem mais explicações e nunca mais tocaram no assunto.

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Orlando Barrozo

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