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Buraco sem fundo na telefonia

Enquanto se especula uma possível fusão entre a italiana Tim e a francesa GVT, que teria impacto direto sobre os mercados brasileiros de telecom e TV paga, a “bomba” da sexta-feira envolve mais uma vez a Oi. O excelente repórter Julio Wiziack, da Folha de São Paulo, obteve um furo ao divulgar detalhes das negociações entre um grupo de bancos para injetar R$ 8 bilhões na semifalida operadora.

Deve ser a centésima vez em que surgem notícias sobre problemas financeiros na empresa. Como muitos devem se lembrar, a Oi nasceu de um sonho megalomaníaco do ex-presidente Lula, atiçado por um grupo de empresários que financiou as campanhas políticas do PT. Em 2007, Lula decidiu que a antiga Brasil Telecom, maior operadora do país na época, passaria ao controle dos grupos La Fonte e Andrade Gutierrez, que por sinal nada têm a ver com telecom. Com o novo nome de Oi/Telemar, mais tarde apenas Oi, a empresa foi constituída com dinheiro fornecido, a juros camaradas, por dois bancos estatais: BNDES e Caixa Econômica Federal, além de seus respectivos fundos de pensão. Uma brincadeirinha estimada em R$ 12 bilhões.

A ideia – pelo menos a anunciada então com toda pompa – era criar uma megaoperadora, capaz não só de enfrentar as gigantes que atuavam no Brasil (como a espanhola Telefônica e a mexicana America Móvil), mas também de conquistar mercados em outros países. Passaram-se os anos e a Oi não conseguia decolar, apesar de várias trocas de comando. Novos aportes financeiros, incluindo Banco do Brasil e outros fundos de pensão estatais, foram ordenados, mas de nada adiantou.

Em 2011, arquitetou-se uma fusão da Oi com a Portugal Telecom, negócio calculado em R$ 14 bilhões. Ainda assim, a operadora seguiu dando prejuízos e, pior, tornando-se campeã de reclamações na Anatel e nos Procons. Ou seja, o contribuinte – que estava pagando essas contas bilionárias – nem conseguia em troca um serviço minimamente decente.

Hoje, as estimativas são de que a Oi deve no mercado algo em torno de R$ 41 bilhões, sendo que parte desse total absurdo (R$ 10 bilhões) são multas aplicadas pela própria Anatel e não pagas até hoje. Estranhamente, o conceituado banco BTG Pactual está liderando um grupo de instituições financeiras para tirar a Oi do buraco sem fundo. Digo “estranhamente” porque, em condições normais, nenhum empresário em estado sóbrio se interessaria em investir numa empresa com essa dívida e esse prontuário de desmandos financeiros.

A não ser que… bem, deixo as especulações a cargo do leitor, lembrando apenas que estamos em ano eleitoral.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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