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Eletrônicos: o dilema da simplicidade

Um problema que sempre acompanhou a evolução tecnológica, e persiste ainda hoje, está na operação dos aparelhos. Muita gente investe alto em produtos de sonho, mas acaba utilizando apenas uma ínfima parcela dos recursos oferecidos, simplesmente porque não consegue se familiarizar com eles. Isso acontece com TVs, equipamentos de áudio high-end, computadores e também celulares, hoje os eletrônicos mais comuns.

Já ouvi de vários fabricantes esta explicação: para baratear os produtos, seria possível excluir alguns recursos, incluindo as chamadas “perfumarias”, como leds luminosos e teclas redundantes; mas a maior parte dos consumidores rejeita aparelhos excessivamente simples, que não chamam atenção ou que tenham “apenas” os recursos necessários no dia-a-dia. Como sair desse dilema?

Qualquer pesquisa com usuários irá apontar que a maioria quer aparelhos fáceis de operar e ajustar, o que parece razoável. Mas esse desejo esbarra em outro, muito comum no ser humano, que reside na satisfação de possuir um produto bonito, inclusive para mostrar aos amigos conforme a ocasião. Deve haver teorias psico-sociais a respeito.

Pensei em tudo isso outro dia, ao conversar com um amigo sobre a questão da automação residencial. No mundo inteiro, e no Brasil também, têm sido lançados aparelhos minúsculos que, segundo seus idealizadores, tornam a automação mais fácil. Munidos de um software específico, há dispositivos que permitem controlar as luzes de uma sala, abrir/fechar portas, regular o ar condicionado etc. – e que custam uma fração do valor cobrado por um sistema de automação. Este, entre outras características, exige um projeto e a instalação de uma central de controle, devidamente programada.

Será que soluções simples e baratas demais funcionam? Com certeza, têm alguma utilidade. E são uma espécie de porta de entrada para a automação mais ampla. Muitas lojas anunciam uma soundbar como “sistema de home theater”, escondendo do consumidor o fato de que aquilo é apenas uma simulação de efeitos sonoros; pode cumprir essa tarefa com eficiência, mas será sempre um simulador, baseado em software, não em qualidade de áudio.

O mesmo pode ser dito, em certa medida, das soluções “milagrosas” em automação residencial. Como tudo em eletrônica, há uma avalanche de produtos chineses prometendo maravilhas a baixo custo, e uma quantidade enorme de usuários mal informados achando que levam vantagem em adquiri-los. Pode até ser. Mas quem age assim perde o direito de reclamar depois. Afinal, tudo que é melhor tem seu preço. E quem não paga na entrada quase sempre acaba pagando (mais) na saída.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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