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Netflix: quem vai pagar a conta?

 

Há uma frase famosa da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher: “O problema do socialismo é que o dinheiro dos outros um dia acaba”. Lembrei disso hoje ao ler as repercussões sobre a batalha pública entre a Netflix, maior fornecedora de conteúdo online do planeta, e a Verizon, maior operadora de telecom dos EUA (e segunda maior do mundo). As duas empresas decidiram lavar a roupa suja publicamente, escancarando uma divergência que até pouco tempo atrás estava restrita a conversas de bastidores.

O problema é que a lista de usuários do Netflix não para de crescer. Isso está provocando um estresse na rede da empresa, que oferece um serviço sem igual: filmes e vídeos em quantidade ilimitada, em tempo real, a todos os seus mais de 30 milhões de assinantes mundo afora. Grande parte desse conteúdo vem em resolução Full-HD, o que por si só já representa um enorme desafio logístico. Como atualizar a infraestrutura de distribuição – que tecnicamente se conhece como CDN (Content Delivery Network) – na mesma velocidade em que cresce o número de acessos?

Para complicar, em março a Netflix anunciou que passaria a oferecer também conteúdos em 4K, o que, como se sabe, requer quatro vezes mais banda. Não deu outra: a qualidade do sinal caiu para muitos assinantes, chegando a travar a transmissão em muitos casos. O problema chegou rapidinho às redes sociais, que replicaram uma infinidade de reclamações, mesmo após o próprio presidente da Netflix, Reed Hastings, vir a público para anunciar um acordo operacional com a Verizon visando agilizar a distribuição dos sinais.

Pode ter sido uma boa intenção, mas o fato é que muitos assinantes continuam insatisfeitos. Esta semana, Hastings culpou publicamente a Verizon pelas falhas; e esta respondeu, também de público, que o problema está na própria CDN da Netflix, mal estruturada para atender à crescente demanda. Quem tem razão? Não há como saber. Aliás, os usuários – que pagam por suas conexões de banda larga e também pelos conteúdos da Netflix – nem querem saber…

O caso, que até este momento parece sem solução, serve para ilustrar bem as relações nada amistosas entre fornecedores de conteúdo e provedores de conexões. Ambos querem ganhar, e ninguém abre mão de sua parte nos lucros desse negócio bilionário. Só que, pelo visto, “o dinheiro dos outros acabou”.

Hastings, segundo o site Variety, especializado na indústria do entretenimento, está pressionando o governo americano a reduzir os poderes das operadoras, considerando os serviços da Netflix como “de utilidade pública”. Mas a FCC (equivalente deles à Anatel) não parece sensibilizada com esse argumento.

Em tempo: no Brasil, ainda não vi reclamações de usuários do Netflix. Mas é questão de tempo. Se o serviço continuar crescendo, os travamentos serão inevitáveis.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Complementando meu comentário anterior (Qualidade de Imagem na escolha de uma TV), e fazendo um "link" com o assunto acima, tal debate ocasiou agora em mim uma dúvida a mais: quem é realmente o culpado pela queda na qualidade de "Streaming" dos meus filmes da NETFLIX, através da minha 65VT50b: pode ser a própria fornecedora do conteúdo ou, no meu caso, a operadora da minha Internet local (Uberlândia/MG) a CTBC/Algar Telecom? - Alguém vai ter que resolver o meu problema: quero voltar a assistir meus filmes SUPERHD, como promete a Netflix, com 1080HD (1080i) e não com os atuais 720HD (720p). Vejamos que resultado o futuro desse "embróglio". entre essas poderosas empresas. poderá trazer de positivo para seus consumidores.

    • Prezados amigos/leitores, a melhor maneira que ouvi até hoje de explicar a questão da qualidade do sinal enviado pela internet foi a analogia com um ótimo restaurante. Quando vazio, a mesa está limpinha, a comida chega quentinha e mais rápido, o vinho (ou a cerveja) vêm na temperatura certa e assim por diante. Conforme aumenta o número de clientes, aquela mesma comida já pode não chegar tão boa, os garçons não conseguem mais ser tão prestativos, enfim, a qualidade geral do serviço despenca. Netflix e demais serviços via internet dependem de uma rede bem dimensionada; quando muitas pessoas querem acessar ao mesmo tempo, é inevitável que a qualidade caia. Cabe à operadora se planejar e tomar as providências para que essa queda não prejudique o assinante. Mas, na prática, sabemos que isso não é comum. A operadora sempre vai dar prioridade às localidades onde possui maior quantidade de clientes; devo lembrar que em nossa sala de testes não conseguimos ainda detectar diferenças de qualidade entre a imagem do Netflix e as de operadoras como Net, Claro e Sky. Já fizemos também alguns "testes avulsos" na casa de pessoas da equipe, e o resultado foi o mesmo. Quando isso acontece, o mais provável é que a "culpa" seja mesmo da operadora local. Vamos aguardar que essas falhas se resolvam conforme a Netflix for aumentando seus investimentos no Brasil. Mas, de fato, a melhor arma do assinante continua sendo reclamar, utilizando para isso todas as ferramentas das redes sociais, inclusive o já famoso site http://www.reclameaqui.com.br/. Abs a todos e obrigado pela leitura.

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