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Canais pagos brigam fora do campo

A propósito de um comentário que fizemos aqui dias atrás, sobre a disputa pelos direitos de transmissão de eventos esportivos na TV por assinatura, esta semana o clima esquentou. Uma enxurrada de torcedores/assinantes se manifestou pelas redes sociais contra as operadoras Net, Claro e Sky, que não estão transmitindo os jogos da Champions League, a grande liga européia que reúne os clubes de futebol mais importantes do planeta.

Em resposta, as operadoras jogaram a culpa na Turner, gigante americana que é dona do canal EI Max, antigo Esporte Interativo, o único que tem os direitos do torneio. A alegação é que a Turner está pedindo muito para liberar o sinal às três operadoras, que somadas representam cerca de 80% dos domicílios atendidos. Os jogos só podem ser vistos por assinantes da Oi e da GVT, além de outras menores, ou então pela internet, no próprio site do EI, com as limitações habituais do streaming ao vivo (tratamentos, distorções e outros problemas que tornam uma transmissão de futebol inassistível).

Sentindo-se atingida, a Turner publicou em jornais e em seu site um comunicado sob o título Como Assistir à Champions. A empresa diz que é “totalmente falsa” a afirmação de que o preço é alto (não são revelados os valores) e que vinha negociando normalmente com todas as operadoras quando, “misteriosamente, algumas delas desistiram dos acordos”. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o diretor do canal, Edgar Diniz, insinuou que o motivo seria uma declaração do diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, durante o Congresso da ABTA, no início de agosto, que reproduzimos aqui na época. A frase “há loucos à solta“, ironia sobre a inflação nos custos dos direitos esportivos, teria feito Net e Sky recuarem da negociação com a Turner.

Vale lembrar que a Globosat, maior programadora do país, é dona do SporTV e uma espécie de “cliente preferencial” das operadoras. Mas o episódio é revelador. Já aconteceu em 2012, quando a Fox lançou seu canal de esportes com marketing extremamente agressivo, numa longa negociação com as principais operadoras. Como se sabe, na TV paga brasileira, esporte lembra imediatamente duas marcas: SporTV e ESPN. Ambas estão há mais de vinte anos na área. Hoje, dividem a audiência com o Fox Sports, o que é ótimo para o assinante. Na teoria, a chegada de um quarto canal também seria muito bem-vinda.

Só há um porém. A Turner fez uma aposta talvez alta demais, pagando pela Champions League quase o dobro do que pagava a ESPN. Era inevitável que quisesse recuperar esse investimento cobrando mais das operadoras. Mas, nesse segmento, os contratos se baseiam no número de assinantes. Por isso, Net e Sky pagam mais; na verdade, pagam um valor unitário mais baixo, porque o valor total é dividido pela quantidade de assinaturas. Mas o desembolso é sempre maior. Coisa de gente grande.

A Fox também insistiu o quanto pôde. A Turner não terá como fazer diferente, pois os donos da Champions exigem que seus jogos sejam vistos pelo maior número possível de torcedores. É a lei do mercado.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Nao ligo a minima para futebol, mas acho muito estranho NET e Sky insinuarem que o preco pedido pela Turner seja alto, quando operadoras menores incluiram o canal em seus line-ups rapidamente. Acho mais crivel que seja apenas, mais uma vez, a Globosat fazendo valer a clausula existente em seus contratos com essas duas operadoras, que dá a ela o "direito" de vetar canais estrangeiros concorrentes aos seus proprios canais...

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