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Privatização deixou de ser palavrão

O mês de julho marcou o 20o aniversário do início das privatizações de empresas estatais, no governo FHC. Alguns se esqueceram (outros tentam apagar da memória) que naquela época o país contava com várias empresas estatais falidas. Banespa, Banerj, Eletrobrás, Vale do Rio Doce, Usiminas, Telesp, Telerj e tantas outras drenavam bilhões de dinheiro público e acumulavam dívidas impagáveis. Se não fossem vendidas, fatalmente o país iria à bancarrota.

Apesar do sucesso dos leilões realizados a partir de 1998, durante anos a palavra “privatização” foi tida como de baixo calão por uma boa parte da população. Ao assumir a Presidência, em 2003, o PT fez questão de interromper o processo de desestatização, medida que, a meu ver, está na raiz da crise fiscal que explodiu no governo Dilma. Felizmente, a palavra maldita hoje pode ser pronunciada sem temores, tanto que vários dos atuais candidatos anunciam planos de diminuir o número de empresas estatais.

Não vou me estender em análise político-econômica; para quem se interessa, recomendo o artigo Qual é o Papel das Empresas Estatais?, do prof. José Goldemberg, ex-ministro, publicado há dias no Estadão. Quero chamar atenção para outro artigo, produzido pela consultoria Teleco, especializada em tecnologia, celebrando os 20 anos das privatizações (leiam aqui). Recheado de números, o texto analisa em detalhe a importância desse programa para a modernização do país nas últimas duas décadas.

Para os mais jovens, talvez seja útil lembrar que até então pagávamos de 5 a 10 mil reais por uma simples linha telefônica, que nunca demorava menos de um ano para ser instalada; na rua, tínhamos de recorrer aos famosos orelhões, não esquecendo de andar com a quantidade necessária de fichas, semelhantes a moedas – foi daí, aliás, que surgiu a expressão “caiu a ficha”; quando caía dentro do orelhão, a ligação se completava (a foto acima é de 1978, tirada do blog Viajante do Tempo Real). Nos escritórios, às vezes era insuportável o barulho de várias pessoas berrando ao mesmo tempo em telefones que se recusavam a transmitir decentemente nossas vozes.

Lembro que, em 1987, numa viagem aos EUA, fui visitar um amigo e fiquei morrendo de inveja quando ele, ao telefone, solicitou uma segunda linha para sua casa – e o técnico chegou para instalar apenas duas horas depois!!! Nenhum de nós imaginava, então, poder usar um celular, aparelho que se tornou comum somente na virada do século.

Provavelmente, ainda estaríamos na pré-história das comunicações, não fosse a sábia ideia de que o Estado deve usar seu dinheiro (nosso) apenas para cuidar de escolas, hospitais, delegacias e demais serviços públicos. Não precisa se meter com telefonia. Melhor mesmo privatizar.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Ah, o PT e sua ideologia anacronica e ultrapassada, quantos prejuizos nos trouxeram durante sua governaça equivocada... Um dia a Historia, talvez, faça juz a todos esses erros (nao apenas deles, verdade seja dita) que impulsionam o nosso eterno atraso.

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