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Pirataria vira notícia. Ainda bem!

Voltamos a falar desse assunto chato, que incomoda tanta gente, mas que é inescapável. Tão chato que a maior parte da mídia brasileira evita, como que emulando a postura de grande parte da sociedade de achar “tudo tão normal”. Dias atrás, a revista Americas Quarterly – que trata de política, economia e cultura na América Latina – trouxe extensa reportagem sobre a chamada black box, caixinha pirata que permite acesso ilegal a filmes, programas de TV e até séries do Netflix. Merece ser lida com atenção: a tradução pode ser lida aqui.

O repórter Jonathan Franklin, que vive em Santiago (Chile), não se limitou ao que faz a maioria dos jornalistas, que é republicar as informações oficiais fornecidas pela polícia ou pelas entidades ligadas ao assunto. Veio pessoalmente a São Paulo e percorreu a região da Sta. Ifigênia, entrevistando comerciantes estabelecidos e também camelôs que vendem a tal caixinha.

“Esta daqui pega 1.000 canais”, ouviu ele de um vendedor que cobrava R$ 480 pelo aparelho e lhe fez a demonstração na hora. Natural de Boston, Franklin teve até o prazer de assistir, ali mesmo, ao vivo, o telejornal Good Morning America exibido pela afiliada da rede ABC em sua cidade. Era a prova irrefutável do crime.

O relato sobre a proliferação dessas “caixas pretas” na América Latina é detalhado, revelando que 1/3 dos usuários no continente utilizam esse meio para acessar serviços de streaming e TV por assinatura. A reportagem analisa inclusive as políticas de países como Brasil, Chile e Colômbia, nem sempre eficazes, e não deixa de reconhecer que parte do problema (apenas parte) está no alto custo das assinaturas de TV, inacessíveis para muita gente. Mas lembra também que muitos dos que utilizam black box são pessoas de classe alta e média alta, ou seja, que poderiam pagar pelos serviços legais.

É uma longa discussão, que quase sempre acaba nos levando ao mesmo ponto: muitos dos que adquirem produtos e serviços piratas são os mesmos que vivem acusando políticos e governantes de corrupção. Acham que só devem ser punidos os crimes e privilégios dos outros.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • O link pra tradução da reportagem tá redirecionando pra uma página de login do WordPress.

  • Quando as operadoras tiverem valores de mensalidades justos, a pirataria tende a diminuir ou até desaparecer, não conheço ninguém que tenha netflix ou Spotify piratas, pois os valores não são abusivos.

  • Orlando,posso estar enganado mas,a direita deste seu post está aparecendo uma propaganda dizendo "não pague por tv a cabo"que dá acesso a um tal de "Radius".Isso não é algum tipo de pirataria?

    • Olá Rubens, para mim não apareceu (ainda), mas provavelmente é o tal do algoritmo do Google, que insere os anúncios de acordo com palavras-chave. "Pirataria", claro, é uma delas. Não tem como evitar e é aleatório: pode aparecer para algumas pessoas e para outras não. Obrigado. Orlando

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