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Futebol na TV assume papel de circo

 

 

Foi muito feliz o comentarista PVC ao lembrar que, hoje, a maioria das crianças tem mais interesse em clubes da Europa do que nos brasileiros. Nas ruas, tem sido mais comum ver garotos com a camisa do Barcelona ou do Chelsea que do Palmeiras ou do Vasco. A bem da verdade, há uma exceção chamada Flamengo, mas me arrisco a dizer que é mais por causa da incrível campanha no ano passado.

E o que isso tem a ver com o tema deste blog? Muito, a se levar em conta o atual impasse entre clubes e emissoras, com interferência – indevida, como sempre – do governo. O último lance do imbroglio foi a decisão do Flamengo de transmitir uma partida em seu canal no YouTube, levando a Globo a rescindir contrato que havia firmado com a Federação Carioca. O clube agiu estimulado pelo presidente da República, que só para contrariar a emissora criou do nada uma medida provisória alterando os termos desse tipo de contrato em todo o país.

Sim, a MP pode (deve) cair se não for apreciada pelo Congresso em 60 dias, mas o estrago já está feito. Se alguém perguntar se o presidente não tinha assuntos mais relevantes para cuidar em meio à maior crise econômica e de saúde da história, a resposta talvez seja um “e daí?”. O episódio dá bem ideia do circo em que foi transformado o futebol brasileiro (e o próprio país) com a falta de transparência e a promiscuidade entre cartolas, políticos, emissoras, patrocinadores etc.

Foram esses dois fatores que fizeram a maioria dos clubes virarem reféns da Globo nas negociações sobre direitos de transmissão – quase todos devem milhões à emissora, que na verdade acostumou-se durante anos a dar as cartas no negócio sem levar em conta o interesse dos torcedores. Sofreu o primeiro revés em 2017, com a chegada da Turner (Esporte Interativo), seguida pelo DAZN e até Facebook, que também entrou nesse jogo. 

Com a expansão do streaming, ficou mais fácil para o fã do esporte perceber o abismo que nos separa da Europa, não só em termos de organização, mas na própria qualidade dos espetáculos. Como se sabe, o streaming passou a ser o maior concorrente da Globo (as outras emissoras não contam), o que explica seus altos investimentos no Globoplay. Não por acaso, caiu a audiência do SporTV e subiram as do Viva e do GloboNews.

Assim o futebol brasileiro vai deixando de ser um produto interessante. Não é possível hoje saber quanto o Flamengo irá faturar com suas transmissões pelo YouTube, mas dá para apostar que essa fórmula não se aplica à maioria dos clubes. Conhecendo-se como são administrados, sua sobrevivência está em risco, e só mamãe Globo é capaz de salvá-los.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Se desmamar da Globo pode até doer no início mais depois tudo se ajeitar e novos rumos aparecem.

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