Categories: Uncategorized

Tecnologia e os “novos” trabalhadores

A paralisação dos motoboys paulistanos, na semana passada, me chamou a atenção tanto pela forma como ocorreu (de modo pacífico, fora um ou outro incidente) quanto pelo uso intensivo da tecnologia entre os manifestantes. Sem sindicato nem líderes visíveis, foi a comunicação online que possibilitou a organização do movimento. Ao contrário das greves convencionais, que tanto vimos no passado, os trabalhadores interromperam o serviço, permaneceram com seus veículos estacionados ao longo de todo o dia e retomaram a atividade no dia seguinte, causando um mínimo de transtornos à população.

Um artigo do grande jornalista Celso Ming no Estadão analisa o episódio em detalhes (vejam aqui), mostrando que, graças às novas tecnologias (e, claro, à pandemia), pode estar nascendo uma nova forma de se fazer greve. O autor ouviu dois dos maiores especialistas brasileiros em relações do trabalho, os professores Helio Zylberstajn e José Pastore, da USP, explicando que a tecnologia, após contribuir para a queda nos níveis de emprego tradicional, agora ajuda a fortalecer os protestos dos trabalhadores.

Não deixa de ser curioso. Sempre se falou que as empresas, ao adotar mais recursos tecnológicos, poderiam prescindir dos empregados, o que é verdade em determinados setores. Mas essa mesma tecnologia serve, por exemplo, de estímulo às startups e cria em muitos jovens a vontade de montarem um negócio próprio. Nunca foi tão fácil abrir uma empresa, ainda que seja apenas para vender um aplicativo. 

O movimento dos motoboys entra para a História como o primeiro da era digital no Brasil; em outros países, já houve greves de motoristas do Uber, mas a entrega rápida – principalmente de comida – tende a ser um serviço cada vez mais requisitado, já que milhões de pessoas pelo mundo afora estão se adaptando ao trabalho em casa. Por isso é que não faz sentido a Justiça do Trabalho analisar esses casos com os mesmos olhos das atividades convencionais, como vemos nesta reportagem. As relações entre empregado e empregador tornaram-se muito mais complexas.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

Share
Published by
Orlando Barrozo

Recent Posts

Dicionário de tecnologias AV

  Você sabe o que é o protocolo AVB? Já aprendeu o que são harmônicos…

2 semanas ago

Médias empresas, grandes transações

Fusões e aquisições são quase que semanais no mundo da tecnologia. A mais recente -…

3 semanas ago

Energia solar acelera o futuro

Nesta 6a feira, o Brasil ultrapassou a marca histórica de 2 milhões de domicílios equipados…

3 semanas ago

Excesso de brilho nas TVs é problema?

    Já vi discussões a respeito, em pequenos grupos, mas parece que a questão…

4 semanas ago

Incrível: Elon Musk contra as Big Techs!

      A mais recente trapalhada de Elon Musk, ameaçando não cumprir determinações da…

4 semanas ago

De plágios, algoritmos e enganações

Pobres Criaturas, em cartaz nos cinemas e desde a semana passada também no Star+, é…

1 mês ago