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A crise do Netflix (e a do streaming)

Deu no Financial Times: o tão badalado mercado de streaming pode estar no limite do esgotamento, com uma oferta muito maior de serviços e conteúdos do que pessoas dispostas a pagar por eles. Em abril, pela primeira vez em sua incrível história de sucesso, a Netflix anunciou que perdeu assinantes (200 mil ao todo, no primeiro trimestre). Mais: os números devem continuar caindo ao longo do ano.

Foi um choque em Wall Street, onde as ações da empresa desabaram 40% em poucos dias. A Netflix chegou a valer US$ 300 bilhões em novembro, agora fica na casa dos US$ 100 bi. As justificativas para a queda foram basicamente três: o preço da assinatura sofreu aumento no final de 2021; surgiram mais concorrentes, alguns muito agressivos (leia-se: Disney+); e o mercado americano começa a dar sinais de saturação.

Embora alguns tenham comemorado a queda (“Netflix está derretendo”, escreveu um colunista da Folha de São Paulo), a notícia também é ruim para o segmento de streaming como um todo. O setor vinha crescendo desde 2012, muito em função da Netflix, na presunção de que a maioria das pessoas estava se cansando do modelo tradicional da TV, com grades e horários pré-definidos e quase nada de variedade nos conteúdos.

Sobra alguém para pagar a conta?

Parece que não é bem assim. Bilhões de pessoas ao redor do planeta ainda se contentam em passar horas assistindo aos mesmos programas de sempre, entremeados por um ou outro evento esportivo ou o crime do dia. E, melhor ainda, de graça. O problema é que Disney, Amazon, Apple, HBO, Globoplay… todas seguiram na cola da líder Netflix, copiando seu modelo de muito conteúdo com valor baixo de assinatura. Se esse modelo não se sustenta, pior para todos.

Uma boa pista pode estar no crescimento do AVOD, como são chamados os serviços de streaming gratuito, que se paga através de publicidade (se isso te lembra um canal de TV tradicional, não é mera coincidência). São nomes como VIX, Pluto TV e Adrenalina Freezone, que oferecem conteúdos variados sem cobrar assinatura. Segue na mesma linha o TV Plus, serviço agregado às TVs Samsung, que é um canal alternativo com conteúdos de humor, esportes, documentários etc.

É impossível saber neste momento se esses modelos darão certo. Mas já se sabe que, com a crise mundial, os custos para se manter o volume de novas atrações a toda semana, como faz a Netflix e seus concorrentes tentam imitar, se tornam exorbitantes. Quem vai pagar essa conta?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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