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A TV e o jornalismo policialesco


“Que ele tem uma cara de doidão, ele tem, né! De dentista sério ele não tem nada…” Essa foi a descrição feita pelo apresentador de TV, referindo-se a um acusado de estupro que, viu-se mais tarde, foi preso sem provas. Prosseguiu com os xingamentos no “Balanço Geral”, da Record, que poderia ter sido na Band, SBT e respectivas afiliadas (a Globo tem lá suas baixarias, mas não desse tipo).
A Justiça acaba de condenar o apresentador e a emissora dos bispos a pagar R$ 100 mil de indenização ao tal dentista, além de se retratar e pedir desculpas no ar pelas palavras usadas. Não acredito que a decisão seja cumprida; o apresentador, hoje na Band, disse que não repetiria aquilo, mas continua com um programa policialesco, desses que envergonham os verdadeiros jornalistas. E a emissora não se pronuncia.
Não assisto, claro, mas vendo trechos aqui e ali na internet, e lembrando de figuras como Gil Gomes e Jacinto Figueira, este o “Homem do Sapato Branco”, que lançaram a moda nos anos 60 (aliás, muito mais criativos que os Datena da vida atual…), penso no mal que essa gente toda fez e faz ao país.
Uma ação movida dias atrás por um procurador do MP da Bahia (vejam aqui) busca condenar três emissoras por “exposição indevida e incitação à violência” em programas do gênero. Pede a proibição dos programas mais R$ 4 milhões de indenização, sendo R$ 1 milhão a ser pago pela União, por permitir que esse tipo de conteúdo continue sendo veiculado. Afinal, toda emissora é uma concessão pública e, como tal, tem de ser fiscalizada pelos órgãos federais – Anatel e ministérios das Comunicações e da Justiça.

Será que essas punições serão executadas? Os apresentadores, que se autodefinem como defensores da família e da lei, serão impedidos de continuar faturando sobre a miséria e a ignorância do povo? Claro que não. Primeiro porque, provavelmente, não sabem fazer outra coisa. E, segundo, porque sem esses programas, e todo o sangue que fazem jorrar das telas de TV, as emissoras simplesmente não têm o que mostrar.

E não duvido que entre seus proprietários estejam parlamentares ou até ministros da República.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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