Lembro de ter participado, em 2017, da primeira demo de áudio Dolby Atmos com fone de ouvido, realizada pela Dolby, em parceria com a Globo e a Yamaha, na SET Expo, em São Paulo. Foi uma revelação. Sentir “dentro da cabeça” o ronco dos aviões e os pingos de chuva batendo na janela é algo que, como diz aquela propaganda, não tem preço. Daí para uma audição de áudio binaural, como ouvi na feira ISE, na Holanda, em 2018 (cortesia da alemã Sennheiser), é mais um grande salto.
Agora, vemos que está se espalhando o conceito “Atmos Music”, ou seja, o uso de áudio imersivo também em gravações musicais. Semana passada, a Dolby Labs informou a seus acionistas que um terço dos artistas top 100 da Billboard, a “bíblia” da música comercial, já utilizam o software Dolby Atmos em shows e estúdios. Não é pouca coisa, mesmo considerando que grande parte desses top 100 é formada por artistas descartáveis.
O site americano Tech Radar reporta como o Atmos vem sendo adotado pelas principais plataformas de streaming. Apple Music, Amazon Music e Tidal já oferecem faixas nesse padrão, em número crescente, enquanto o Qobuz, especializado em música de alta resolução, acaba de anunciar o THX Spatial Audio, formato de 24-bit adotado também por artistas de jazz como a brilhante clarinetista Anat Cohen.
O objetivo, dizem as plataformas, é oferecer ao ouvinte a sensação de estarem fisicamente no estúdio ou diante do palco com seus artistas preferidos. Honrando a tradição do fundador Steve Jobs, a Apple – que tem entre seus consultores ninguém menos do que Tomlinson Holman, o inventor do THX – já havia lançado em 2021 seu próprio Spatial Audio. E se, antes, para desfrutar do recurso eram necessários fones de ouvido de alto padrão, o avanço da tecnologia permite que use modelos de custo médio sem perder quase nada da experiência.
Um desses avanços é o codec Logic Pro, cada vez mais usado pelos engenheiros de áudio tanto em gravações originais quanto em remasterizações. Com essa ferramenta, diz a Apple, é possível compor, editar, colocar ritmo e mixar as músicas, já integrando uma trilha Dolby Atmos em até 7.1 canais. A única exigência é usar fones AirPod.
Gostando-se ou não (os puristas torcem os ouvidos para essas inovações…), há enormes chances de que o “áudio espacial”, ou que nome tenha no futuro, se torne padrão de mercado, à medida que as novas gerações o experimentem. Vale notar que a Netflix lançou mês passado em alguns países sua versão de Spatial Audio. Diferente da Apple, trata-se de algo chamado AMBEO 2-Channel, tecnologia licençada da Sennheiser que permite reproduzir trilhas Atmos em equipamentos estéreo.
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