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Big techs: a culpa é da vítima?

 

Em tantos crimes que vemos por aí, é comum advogados em defesa de criminosos subverterem fatos e evidências para apontar que a culpa foi da vítima. Estamos bem perto disso também na atual discussão sobre as Big Techs e os males que estão causando – e que já superaram por boa margem os benefícios que possam trazer.

A analogia, que já tinha me ocorrido tempos atrás, vem agora de alguém muito mais preparado e respeitado, uma quase unanimidade mundial: o historiador e filósofo israelense Yuval Harari, autor de pelo menos dois best-sellers indispensáveis: “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade” (2014) e “21 Lições para o Século 21” (2018). Em entrevistas para promover seu novo livro, “Nexus”, ele não se cansa de alvejar as grandes empresas de tecnologia como fontes de inúmeros problemas que afligem a sociedade atual.

Vejam este raciocínio e tentem discordar: “Os algoritmos descobriram que a maneira mais fácil de prender a atenção do ser humano é acionar em seu cérebro três botões: medo, ódio e ganância. Chamam a isso ‘liberdade de expressão’, mas algoritmos não têm liberdade de expressão. Esse dom é exclusivo dos humanos. As empresas de tecnologia tentam nos confundir culpando os usuários, ao afirmarem ‘não somos nós que produzimos conteúdo’. Mas não é verdade. Quem edita os conteúdos e decide o que vai ser visto são os algoritmos”.

Fake news e teorias da conspiração

Perfeito, não? Harari vai além, ao lembrar que tudo é feito para aumentar o chamado “engajamento”: “Quanto mais tempo passamos no Twitter ou no Facebook, mais dinheiro essas empresas ganham. Os algoritmos prendem a atenção das pessoas usando aqueles três botões: medo, ódio e ganância. E essa é a principal causa das epidemias de fake news e teorias da conspiração”.

Como tantos especialistas, Harari também acha que a ação dos algoritmos – e de resto toda a atividade das big techs – deve ser no mínimo supervisionada, ou mesmo regulamentada. Há quem conecte essa teoria dos três botões com as religiões, que vêm usando o medo e o ódio há séculos – com sucesso, aliás, porque o número de fiéis só aumenta. Não é um argumento despropositado. A diferença é que é impossível regulamentar a fé das pessoas, mesmo que seja comprada ou falseada.

No caso das big techs, e mais ainda agora com a I.A. tomando conta de tudo, a regulamentação não é só necessária, mas urgente. É, aliás, o que já vêm fazendo países como EUA, Australia e a Comunidade Europeia.

Para quem estiver interessado, este vídeo contém preciosos insights sobre tecnologia e o futuro da Humanidade, segundo Harari.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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