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Um grande jornalista sai de cena

Fiquei emocionado ontem ao ler a “carta de despedida” de Mino Carta, um dos maiores  jornalistas brasileiros (talvez o maior). Ele promete encerrar seu blog e não escrever mais na sua revista Carta Capital. Se diz “decepcionado” com o governo Lula e “deslidudido” com o jornalismo em geral.

Partindo de Mino, esses sentimentos são mais do que respeitáveis e compreensíveis. No final de 2009, esse italiano de Gênova que migrou com a família para o Brasil nos anos 50 e decidiu “ser brasileiro” completa 60 anos de jornalismo. Quantos de nós chegaremos lá? De certa forma, acho que todos os jornalistas brasileiros devem um pouco do que sabem a Mino. Para os mais jovens, vale a lembrança: foi ele quem modernizou o Estadão nos anos 50; criou a revista Quatro Rodas, pioneira dos testes de automóveis, em 1960; criou o Jornal da Tarde (1966) e a revista Veja (1968), verdadeiras escolas de jornalismo, por onde passaram todos – isso mesmo: todos – os grandes repórteres e editores do País; criou ainda o falecido Jornal da República (1976) e a revista IstoÉ (1977), que teve grande papel na redemocratização do País (o que aconteceu com a revista depois foi conseqüência, entre outras coisas, da saída de Mino); e por fim, já nos anos 80, criou a Carta Capital.

Nunca trabalhei a seu lado, e confesso que me sinto frustrado por isso. Mas aprendi muito com o que Mino escreveu (espero que volte a escrever), até porque poucos brasileiros escrevem em português como esse italiano! Discordo de muitas de suas posições políticas e sempre lamentei seu apoio ao governo Lula, com quem agora ele se diz decepcionado. Fazer o quê? Grandes artistas e intelectuais muitas vezes têm posições políticas lamentáveis – este espaço é curto para enumerá-los.

Também pouco sei sobre o caráter pessoal de Mino, pois nunca convivi com ele. Já ouvi referências ótimas e também péssimas, e não quero julgá-lo. Digo apenas que Carta Capital, na minha opinião, não honra seu passado de jornalismo independente e crítico, ao defender empresários altamente suspeitos e políticos indefensáveis (dos quais o mais notório é Orestes Quérica, sem falar nos mensaleiros).

Nada disso, no entanto, desfaz a figura de um jornalista a quem este País deve muito do que conquistou – e que, como o próprio Mino diz, ainda é tão pouco, considerando que estamos atrás de Serra Leoa e Nigeria em distribuição de renda. Os jornalistas, então, devem a ele praticamente tudo. Torço, sinceramente, para que nunca deixe de escrever.

Aqui, alguns textos e entrevistas de Mino Carta:

Canal da Imprensa

Blogse.com.br

Carta Capital vs. Gilmar Mendes

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Mais um que abandona o navio... O PT era o sonho dos excluídos que um dia teriam o direito de assumir o poder (que utópico). Oded Grajew era um empresário bem sucedido que percebia que um povo oprimido não teria espaço no mercado de consumo e algo teria que ser feito para mudar isto. Quando Lula assumiu seu primeiro mandato, Oded viu com quem se meteu e caiu fora para não se corromper, pois Lula não passava de uma “rainha da Inglaterra”. Um grande empresário do ramos dos eletrônicos oPTou rapidamente pela ajuda ao governo em troca de favores e o discurso da TV digital. Deu-se muito bem, pois sua empresa estava quebrada e foi salva pelo governo que ele ajudou a colocar no poder. Ninguém mais falou no assunto. Mino Carta foi outro; sua revista enaltecia o pobre menino nordestino que chegou ao poder e quando presidente só fazia coisas boas para o Brasil. Choveram anúncios de estatais na Carta Capital. Agora tirou o time de campo por um motivo nobre. Será que tem vergonha? Será que as estatais continuarão anunciando? Sou anti PT mas sou também anti ratos que abandonam o navio quando tem seus interesses contrariados.

  • Mino preferiu a escória em vez de preferir a história. O desalento e frustração de Mino Carta com o governo do PT atingiu antes personalidades que também fizeram trajetória parecida. Os casos mais emblemáticos foram os dos jornalistas Ricardo Kotsho e Frei Betto, sem contar Hélio Bicudo. A escória choca as pessoas de bem.

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Orlando Barrozo

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