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Engolindo a lingua

Ainda não digeri a tal reforma ortográfica. Nem sei se vou conseguir. Estou mais propenso a seguir o professor Pasquale Cipro Neto, que se recusa a aceitar as novas regras do idioma. Ele, como mestre na matéria, deve saber bem do que está falando. Eu, como simples mortal, me limito a concordar que é um absurdo meia dúzia de sábios decidirem como devemos escrever e falar. Ainda mais quando se trata de unificar a linguagem de todos os países de lingua portuguesa, como alegaram os donos da idéia. É a ditadura do idioma?

Melhor fariam essas sumidades se tratassem de corrigir o currículo das escolas nessa matéria fundamental: Português. Outro dia, flagrei meu filho, estudante do colegial, diante da seguinte dúvida proposta por sua professora: qual é a diferença entre aposto e adjunto adnominal??? Além de não ter a resposta, o coitado se perguntava: por que tenho de saber essas coisas? Tive de lhe dar razão. Trabalho escrevendo há mais de 30 anos e nunca precisei saber a resposta a essa pergunta, nem a tantas outras inutilidades que nos querem impingir.

Meu amigo Luiz Gravatá, sempre bem-humorado, publicou o link para o dicionário Aulete Digital, que segundo ele já inclui todas as modificações da nova ortografia. Baixei no computador para eventuais consultas, mas não tenho a menor vontade de abri-lo. Como bem lembra Gravatá, a nova ordem idiomática manda escrever “porta-retrato” com hifen e “autoretrato” sem. Qual é o critério? Não, por favor, não precisa explicar. 

Quando estive em Portugal, a recepcionista do meu hotel estava revoltada com essas novas regras. Portugal, dizia ela, será o maior prejudicado. Perguntei por que: “Ora, querem nos tirar todas as sílabas que engolimos”!

Minha solidariedade ao povo português. Nosso idioma não merece. Aliás, ninguém merece.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Compartilho da mesma opinião e indignação. Enquanto meia dúzia de intelectuais decidem o futuro (ou melhor, o presente) do idioma, dados do IBGE apontam que há 2,1 milhões de crianças analfabetas entre 7 e 14 anos frequentando (com ou sem trema? Ah, deixa pra lá!) normalmente as escolas. Que beleza!

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