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Conversores: a dança dos números

Um dos temas mais discutidos no Congresso da SET, realizado semana passada em São Paulo, foi o mercado de conversores de TV Digital, os já famosos “set-top box”, nome que, aliás, vai ficando para o passado. A opção da maioria dos fabricantes pela inclusão da caixinha dentro dos televisores praticamente torna obsoletos esses aparelhos, que chegaram a ser vistos, no início, como caixas mágicas.

A discussão é sobre o número de conversores vendidos no Brasil. O Fórum SBTVD divulgou uma estatística difícil de engolir: 1,8 milhão de receptores digitais. O número inclui conversores externos e internos, além dos mini-receptores 1-seg, que são usados em notebooks, e dos celulares com sintonizador de TV Digital. O site Tela Viva foi atrás e levantou, extraoficialmente (não há como calcular de fato), que foram vendidos no máximo 100 mil receptores externos e cerca de 80 mil televisores com o acessório embutido. A quantidade de celulares com receptor de TV é ínfima, até porque são geralmente os modelos mais caros. Como se chega daí até 1,8 milhão, é um daqueles mistérios que só o marketing explica…

Na verdade, o Fórum soma na sua conta os TVs (Full-HD e HD-ready) que não têm receptor embutido e, portanto, não conseguem captar o sinal das emissoras digitais. É mais uma tentativa de fazer crer que a TV Digital no Brasil é um grande sucesso e, com isso, convencer investidores, anunciantes e também o nobre telespectador a aderir. Mais: faz parte de um lobby para promover o padrão nipo-brasileiro junto a outros países. Como se sabe, a Argentina anunciou neste fim de semana sua adesão ao SBTVD (cujo nome comercial é ISDB-T), assim como já havia feito o Peru. Espera-se que Equador e Venezuela sigam o exemplo, e já há uma missão diplomática brasileira na África, tentando vender o padrão.

Nada contra: quanto mais países aderirem, melhor para todo mundo, porque o custo dos equipamentos tende a cair. O governo brasileiro faz bem em tentar vender o “seu” padrão e estimular fabricantes nacionais a produzirem não só conversores, mas também equipamentos de transmissão e modems de interatividade. Vai gerar empregos e baratear os preços. Mas não se deve confundir isso com política tecnológica. A Argentina só desistiu do padrão americano por pressão do governo brasileiro, que está até emprestando dinheiro a dona Cristina. Venezuela e Equador querem o padrão brasileiro por motivos políticos (peitar os EUA), não tecnológicos.

Tenho certeza de que a maioria dos usuários não está nem aí com os números. O que todos querem é que a TV Digital funcione, que haja mais programas em alta definição e que o preço das assinaturas baixe. Ou não?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • A tv digital para mim,por enquanto,é uma grande decepção,pois aqui na minha cidade(Sorocaba-SP) o único canal digital disponível,que é a Globo não tem quase nada em HD.Não vejo justificativa para passar filmes do cinema em sd 4:3 ou jogos de futebol que só sabemos se será em HD ou SD na hora que o mesmo se inicia,não há nada na programação para que o espectador(e tome espectador nisso...) também possa se programar.Será que os coitados,pobres da Globo não querem desgastar seu equipamentos em HD pois se quebrarem não poderão comprar outros?Quanto a mim,quando o programa não é HD não assisto mesmo,vou para os canais pagos ou para o dvd/bluray.

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