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Banco dos Grandes Grupos

Sim, proponho aqui a mudança de sigla: de BNDES para BGG, ou algo parecido. Levantamento do repórter Ricardo Balthazar, da Folha de São Paulo, mostra que 57% dos empréstimos do banco (que só existe para financiar projetos de desenvolvimento) são direcionados para alguns dos maiores grupos econômicos do País. A saber: as construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Correia e Odebrecht; os conglomerados Vale, Votorantim e JBS (Frigoboi); as multinacionais Alcoa e GDF Suez; e as estatais Petrobrás e Eletrobrás. Tudo somado, esses grupos levaram mais da metade dos R$ 168 bilhões que o BNDES emprestou entre junho de 2008 e junho de 2010. Bonito, não?

Podemos voltar ao velho bordão: “Nunca antes neste país…” Os números estão disponíveis no próprio site do banco, que com a desfaçatez típica de quem está no poder justifica os empréstimos alegando que os grupos favorecidos são os que mais investem. Simples assim. João Carlos Ferraz, diretor de planejamento do BNDES, nem deve ter ficado vermelho quando disse ao jornal: “O capitalismo brasileiro está amadurecendo”.

É bom rememorar. Desde 2007, o governo decidiu reforçar o caixa do BNDES repassando recursos do Tesouro, ou seja, aquilo que todos nós pagamos em impostos e tributos. Só no ano passado foram R$ 180 bilhões. Para fazer isso, foi preciso emitir títulos do Tesouro, pagando juros altíssimos, o que contribui para aumentar os juros da economia em geral. Só que o BNDES empresta aos grandes grupos a juros subsidiados, ou seja, a diferença é um prejuízo incalculável, que nós pagamos!

Quando se analisa em detalhe a lista dos beneficiados, encontram-se os suspeitos de sempre: Oi, Light, EBX (empresa de Eike Batista, o homem mais rico do Brasil), CPFL, Usiminas – todas pertencentes ou ligadas aos grupos citados acima. E todas na lista de doadores de campanhas políticas igualmente suspeitas. Para explicar por que isso acontece, recorro aqui, mais uma vez, a um dos jornalistas mais competentes (e independentes) do País, Celso Ming: “O BNDES está distribuindo financiamentos a juros subsidiados com recursos levantados pelo Tesouro com aumento de dívida – e isso repete prática condenada do tempo do governo militar”. E mais: “O BNDES fornece financiamentos quase sempre para quem pode levantar recursos no exterior. Elege os beneficiários e sabota a livre concorrência”.

Até quando?

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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