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Jovens talentos perdidos

Dizia o grande filósofo inglês Bertrand Russell: “A religião é o ópio do povo”. Pois é, poderíamos acrescentar algo como: “A tradição – ou o excesso de tradicionalismo – pode travar o desenvolvimento de um povo”. Reportagem do The New York Times na semana passada (a tradução, publicada pela Folha de São Paulo, pode ser lida aqui) mostra o problema que o Japão está enfrentando com a perda de jovens talentos. É mais um efeito do conflito que o país vive entre modernidade e tradição.

O próprio presidente da Sony, Howard Stringer, já alertou para a questão (leia aqui). Técnicos, engenheiros e até cientistas japoneses, na faixa dos 30 anos, estão encontrando dificuldade para obter emprego, apesar de seu altíssimo nível de qualificação. Isso porque os profissionais antigos têm lugar cativo nas empresas: o respeito aos mais velhos, tidos como “fontes de sabedoria”, é inabalável. E, como há uma cultura generalizada contra as demissões, as pessoas recebem incentivos para permanecer em seus postos pela vida inteira. Profissionais na faixa dos 50 anos têm, em média, salários duas vezes mais altos que os jovens. No ano passado, por exemplo, apenas 56,7% dos que se formaram nos cursos superiores conseguiram arranjar emprego.

Um engenheiro do setor automobilístico, citado no texto, acaba de ser contratado por uma empresa de Taiwan, que considerou seu currículo impecável; em seu próprio país, foi descartado. O problema só tende a piorar, já que a cada ano a idade média da população aumenta um pouco mais.

Talvez esse conflito tradição vs. modernidade esteja na raiz da crise econômica que afeta o Japão, superado aos poucos pelos coreanos, chineses e até países menores da Ásia. Talvez.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

View Comments

  • Prezado Orlando,

    Na realidade, a frase citada é de Karl Marx (em alemão "Die Religion ... Sie ist das Opium des Volkes"), escrita no livro "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", obra publicada em 1844.

    • Caro Mario, obrigado pela correção. É sempre bom ter leitores bem informados. Abs. Orlando

  • Olá, Orlando!

    Uma pequena correção: a frase "a religião é o ópio do povo" é de Karl Marx.

    Sobre o conflito tradição x modernidade, em alguns países ocidentais, entre os quais o Brasil é um bom exemplo, temos muita vezes a situação oposta - o sucateamento das pessoas por terem atingido "uma certa idade".

    Um abraço
    João Carlos

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Orlando Barrozo

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