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Um governo em cima do muro

A acusação de estar sempre “em cima do muro” acompanha o PSDB desde sempre – e na maioria dos casos com toda justiça. Se há uma marca nesse grupo – não vou chamar de “partido” porque acho que isso não existe no Brasil – é a da hesitação, seja para o bem ou para o mal. Fossem mais decididos, e talvez os tucanos tivessem feito, anos atrás, o que vieram a fazer os petistas: tomar conta da máquina pública e comprar, muitas vezes até com dinheiro vivo, aqueles que pudessem se opor a seus projetos. Não tiveram competência ou poder de decisão para fazê-lo, e agora assistem, do alto do muro, ao espetáculo vergonhoso que temos visto todos os dias.

Fiz essa reflexão ao ler e ouvir as notícias das últimas semanas sobre a postura do governo em relação ao estratégico setor de telecomunicações. Sim, depois de muito tempo temos um governo que não é do PSDB mas está, literalmente, em cima do muro. O colega Ethevaldo Siqueira, do Estadão, se diz decepcionado após entrevistar o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sobre as irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) numa licitação da Telebrás. Bernardo encerrou repentinamente a entrevista, irritado, quando o jornalista lhe fez uma pergunta banal: “Não seria melhor promover uma nova licitação, em moldes transparentes?”

A tal licitação teria, segundo o TCU, gerado um sobrepreço de R$ 121 milhões, que precisou ser coberto com dinheiro do Tesouro (ou seja, nosso, do contribuinte). Foi a primeira da nova fase da Telebrás, e também o primeiro contrato para implantação do Plano Nacional de Banda Larga.

Em outras palavras, o Plano, além de tecnologicamente defasado, como mostramos aqui, começa também contaminado. Para descontaminar, é preciso, antes de mais nada, descer do muro.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Esta licitacao da Telebras e um absurdo sem adjetivos.
    O TCU reconhece o superfaturamento de 43 milhoes, os peritos dizem que e 121 milhoes, ambos dizem que existiram centenas de irregularidades.
    A pergunta e obvia: por que nao anularam ainda?? Isto e bastante serio.

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