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Destruindo reputações

Quando o mercado cisma que uma empresa está condenada, é praticamente impossível evitar o triste desfecho. Já aconteceu várias vezes na história do capitalismo, que não costuma perdoar erros de avaliação e/ou de estratégia. Vejam o que está acontecendo com a RIM (Research in Motion), criadora do Blackberry, um dos maiores êxitos da indústria eletrônica nos últimos anos. Durante bom tempo, antes do surgimento do iPhone, os usuários do Blackberry ostentavam seu aparelho em grande estilo, especialmente devido a sua interface inovadora. Nos últimos anos, não só o celular da RIM perdeu seu charme, mas a própria empresa viu despencar os lucros e – pior ainda – sua imagem perante o mercado.

Em reportagem da semana passada, The Wall Street Journal foi cruel ao descrever a situação atual da empresa, sob o título “Research in Demotion” – trocadilho nada enobrecedor. Segundo o texto, acionistas vêm se queixando abertamente da queda no valor das ações (74% só este ano). Lembra o jornal que o histórico recente dos fabricantes de celular não permite muito otimismo: Palm, Motorola e Nokia (as duas últimas líderes mundiais em determinado momento) só foram salvas pela fusão ou associação com grupos maiores – respectivamente, HP, Google e Microsoft. Em 2010, a RIM tinha 15% de market-share; agora, possui apenas 10%, e com tendência para baixo. Além disso, o fracasso do tablet Playbook – um dos primeiros concorrentes do iPad – e a demora em atualizar o sistema operacional do Blackberry, sufocado por Android e iOS, foram considerados pelos especialistas como erros estratégicos fatais.

A culpa é jogada nas costas dos dois executivos que dividem a função de CEO da empresa, Mike Lazaridis e Jim Balsillie. É um caso raro de grande empresa que não consegue escolher um indivíduo como seu líder principal (precisa de dois, que pelo jeito não dão conta da tarefa). Oficialmente, cada um deles recebe apenas salário simbólico (1 dólar cada) – além, é claro, de possuírem ações -, o que em certo momento chegou a ser considerado um gesto corajoso e solidário. Ontem, um colunista do site especializado ZD Net pediu abertamente a queda de ambos: “Em vez de coragem, esse gesto demonstra cinismo. Pelos resultados apresentados, Lazaridis e Balsillie valem hoje exatamente 1 dólar cada. E estão muito bem pagos”.

 

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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