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3D: indústria faz sua autocrítica

Depois de esperar dois anos pelos estúdios de Hollywood, os fabricantes de TVs parece que jogaram a toalha: não há como fazer decolar a tecnologia 3D sem uma boa quantidade de filmes para as pessoas assistirem. Pelo menos, a desistência é o que dá a entender uma entrevista de Fergal Gara, diretor da Sony baseado em Londres (leiam aqui). “É justo dizer que os consumidores hoje não consideram o 3D importante”, disse ele, provavelmente replicando o que pensa (mas não diz) a maior parte de seus colegas.

Atiçado pelos jornalistas ingleses, Gara continuou: “Tanto para filmes quanto para jogos, assistir TV de óculos não é algo muito popular. Isso é um fato. Em casa, as pessoas ligam e desligam o TV várias vezes, dão pausa no filme. É completamente diferente do cinema, onde toda a atenção está concentrada na tela. Pode ser que isso mude no futuro, mas não temos ainda uma tecnologia 3D sem óculos que nos dê boa qualidade. Por isso, vamos ter que pensar em outros recursos mais interessantes.”

Já ouvi isso de algumas pessoas da indústria, embora sem a mesma ênfase. E quase todo mundo concorda que o grande problema, além dos óculos, está na falta de conteúdo. Hollywood, dois anos atrás, acenou com mundos e fundos, para depois recuar. Concluíram que não é economicamente viável produzir e distribuir discos 3D em alta escala, até porque as próprias vendas de Blu-ray não são lá essas coisas. No mundo das mídias online e sob demanda, que vivemos hoje, há pouco espaço para uma tecnologia que consome o dobro da memória nos transmissores e, claro, também nos receptores. Mais: produzir em 3D continua sendo caríssimo. Apesar do entusiasmo inicial de alguns cineastas (como James Cameron e Francis Coppola), o fato é que falta dinheiro para essa aventura.

Falando em Cameron, a produtora de efeitos especiais que ele havia fundado em 2005, chamada Digital Domain Media Group (DDMG), pediu concordata há cerca de um mês. Segundo a Justiça da Flórida, onde é baseada, seus ativos somam cerca de US$ 205 milhões, mas as dívidas já ultrapassaram a casa de US$ 215 milhões. Nem Cameron nem os outros sócios querem mais por dinheiro nela. Curioso que foi a DDMG que permitiu ao cineasta produzir seus filmes de maior sucesso (Titatic e Avatar), cujas bilheterias somadas pelo mundo afora chegam, pelos números oficiais, a mais de US$ 5 bilhões. Sem falar que a mesma empresa criou os efeitos visuais para outros sucessos, como Transformers, Star Trek, X-Men e Piratas do Caribe.

Ou seja, deve ter sido muito mal administrada. E acabou o dinheiro para investir em 3D, como Cameron sonhava.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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