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Italianos compram um tesouro

 

 

O mundo audiófilo certamente está com as orelhas em pé, diante da notícia de que a McIntosh foi vendida. A confirmação saiu nesta terça-feira: por um valor estimado entre 50 e 100 milhões de dólares (por ser empresa de capital fechado, os dados não são divulgados), o grupo financeiro Fine Sounds, da Itália, adquiriu a empresa, que pertencia ao consórcio japonês/americano D&M Holdings. Com sede em Milão, o Fine Sounds já possui outras marcas admiradas pelos fãs de áudio high-end: Audio Research (amplificadores e prés valvulados), Sonus Faber (caixas acústicas), Wadia (players e unidades de transporte para discos digitais) e Sumiko (cápsulas para toca-discos analógicos).

Mauro Grange, CEO do grupo italiano, garantiu que nada irá mudar na marca McIntosh. Esta, segundo ele, não compete com as demais, ao contrário, possui até algumas “sinergias”, como se costuma dizer no jargão corporativo. “Vai agregar muito ao nosso portfólio”, comentou, “e faremos de tudo para manter e proteger o legado e a reputação da McIntosh.” As primeiras reações nos sites e blogs especializados em áudio high-end foram de desconfiança (mais detalhes aqui). Afinal, por que alguém que já possui joias como AR e Sonus Faber iria querer uma marca concorrente? Para dividir mercado? Não faz sentido.

Sim, na teoria não faz, mas talvez seja apenas teoria. O negócio foi articulado por Charles Randall, presidente da McIntosh, insatisfeito com os rumos da D&M nos últimos anos. Os investidores decidiram simplesmente dar as contas ao valor da marca que, ao lado de outras (Jeff Rowland, Krell, Mark Levinson), está nos corações e mentes de todo mundo que aprecia música bem reproduzida. Concentraram-se em suas marcas ditas “populares”, como Denon, Marantz e Boston Acoustics, que passaram a ser vendidas até em magazines, desprezando o segmento de lojas especializadas. Queriam, apenas, o retorno do capital que investiram cerca de dez anos atrás. Para isso, demitiram quase todos os executivos e nomearam uma multidão de representantes pelo mundo afora, alguns dos quais mal sabem o que é uma bobina magnética… “Eles têm outro foco”, resumiu Randall, sem querer – como é normal nesses casos – entrar em polêmica. Deve ser verdade, pois hoje mesmo a marca McIntosh já tinha sido retirada do site do D&M.

Com 63 anos de história e uma sólida imagem entre profissionais de áudio, a McIntosh parece ser uma das poucas marcas do setor que tem condições de sobreviver com base em sua própria dinastia. Grange parece reconhecer isso, ao afirmar que todas as marcas pertencentes ao Fine Sounds buscam o consumidor de alta renda, que precisa de um atendimento adequado. São hoje apenas 195 revendedores nos EUA, número irrisório se comparado, por exemplo, aos de uma Denon ou B&W. “Mas temos uma equipe de talento sem igual no mercado”, diz Randall. “Esse é o nosso maior patrimônio. Agora, trabalhando com mais foco e apoio financeiro, não tenho dúvidas de que podemos continuar criando produtos do mesmo padrão.”

Pessoalmente, a única dúvida que me fica é: como um grupo financeiro italiano – Quadrivio SGR, proprietário da Fine Sounds – tem condições para um investimento desses, em meio à maior crise econômica que o país enfrenta desde a Segunda Guerra? Explicações, quem sabe, nos próximos capítulos.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Curioso, a Sony foca nas tela super premium de 4K e 84", enquanto o grupo DM busca os magazines populares, ambos com o mesmo objetivo: incrementar a lucratividade.

    Pode-se disso concluir que o povo, que agora já tem uma TV razoável, quer agora ter um som de melhor qualidade?

    Se for isso, acho excelente. Nossa geração está muito baseada no visual, prém praticamente surda...

    Abraço,

    Mauro

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Orlando Barrozo

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