Categories: Jeitinho Brasileiro

Doutores desprezíveis

Tenho vários amigos advogados (e também alguns parentes), e meu respeito por eles vai além da amizade ou do parentesco. Mas, se há uma categoria profissional que vem sendo desprestigiada nos últimos anos, é esta. Precisa explicar por que? Uma pista: a maior parte dos “profissionais” da política é originária dos cursos de Direito. Nada de preconceito, é apenas uma constatação.

Num primoroso artigo publicado esta semana, a competente jornalista Eliane Brum, da revista Época, questiona o uso desenfreado da expressão “doutor” como sinônimo de alguém importante. Claro, médicos, dentistas e advogados saem de suas faculdades com esse título, que nada tem a ver com suas respectivas competências ou qualificações. “Doutor” passa a ser toda pessoa que conclui um desses cursos. Como bem lembra Eliane, no entanto, a palavra “doutor” (no popular, “dotô”) passou a ser eufemismo para a distinção de classes sociais. Para muitos, soa natural quando o feirante ou o frentista do posto chama o cliente dessa forma. Não deveria. É como afirmar que alguém é mais importante simplesmente por ser mais rico.

No país dos espertinhos, basta alguém estar bem vestido para merecer o inadequado (e injustificado) apelido. Chega-se assim ao limiar do conhecido “sabe com quem está falando?”, fachada da intolerância e do preconceito. Nos meus tempos de repórter esportivo, cheguei a ser repreendido por não chamar cartolas de futebol de “doutor”, vício que ainda hoje é disseminado. Sem falar em executivos, empresários e policiais que se valem da denominação fictícia para humilhar, constranger e/ou obter vantagens.

Quando se constata que grande parte dos escândalos denunciados no país nos últimos anos foi produzida por “doutores”, fica mais fácil entender o mal que a distorção tem causado ao país. É mais um subproduto da ignorância fomentada pelos políticos (de todos os partidos) para manter seus nacos de poder.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

Share
Published by
Orlando Barrozo

Recent Posts

Um mapa do mercado Pro AV no Brasil

Saiu uma nova edição do relatório MOAR (Marketing Opportunity Analysis Report), produzido pela AVIXA, a…

1 dia ago

Samsung e a Geração AI TV

Com excelente senso de timing, a Samsung batizou sua linha de TVs 2024, apresentada semana…

3 dias ago

Apple pisa na bola. De novo

    O ano não começou bem para a Apple. Uma série de decisões equivocadas…

1 semana ago

A vida útil das TVs

    Uma das polêmicas mais antigas do mercado de consumo é sobre a durabilidade…

2 semanas ago

Dicionário de tecnologias AV

  Você sabe o que é o protocolo AVB? Já aprendeu o que são harmônicos…

4 semanas ago

Médias empresas, grandes transações

Fusões e aquisições são quase que semanais no mundo da tecnologia. A mais recente -…

1 mês ago