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Lei de Gerson na espionagem

Sei que não vou afirmar nada de novo, mas a rapidez e a desfaçatez com que o governo do Rio de Janeiro criou uma lei para espionar cidadãos mostram bem o caráter (na verdade, a falta) do político brasileiro. Os protestos de junho, parece, não entraram na cabeça dessa gente, que continua tentando agir como se fossem donos do país. A dificuldade, para eles, é que hoje a democracia também é digital: as chances de serem descobertos aumentaram significativamente.

Governantes e parlamentares que não entenderem essa nova realidade, e não souberem se comportar de acordo, correm o risco de ser – como dizia o velho Ulysses Guimarães – contrariados pelos fatos. Em meio a toda essa discussão sobre privacidade na internet, ainda falta muito para chegarmos, por exemplo, ao nível de países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, onde até no parlamento promovem-se discussões sobre o tema, transmitidas ao vivo por sites e canais de TV. Aqui, a maioria das pessoas não parece preocupada se algum agente da CIA está escutando seus telefonemas ou lendo seus emails. Mas já demos um belo salto.

A Lei de Acesso à Informação, aprovada no final de 2011, é um ótimo exemplo. Permite que qualquer cidadão solicite informações de seu interesse aos órgãos públicos, que não podem se negar a fornecer. Os espertinhos aboletados no poder, claro, criam os maiores obstáculos. Mas terão de se acostumar. Aliás, já que está na moda falar mal da imprensa, lembro aqui que, até onde sei, a Folha de São Paulo tem sido o único grande jornal a usar essa lei para obter informações de interesse público. Várias denúncias das últimas semanas – entre elas, os já célebres casos envolvendo jatinhos da FAB – surgiram a partir dessa iniciativa do jornal.

Sim, alguém pode argumentar que é apenas uma lei, entre tantas que não são cumpridas. Pois cabe à sociedade lutar por outras medidas que sigam a mesma filosofia, de respeito ao cidadão e ao contribuinte. Só assim teremos menos Cabrais, Renans, Lulas, Serras, Kassabs, Sarneys e outros tantos especialistas em usar a velha lei de Gerson.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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