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Black is Beautiful!

Dias depois do feriado criado para celebrar a chamada “consciência negra”, milhões de brasileiros se entregaram a seu esporte preferido: tentar levar vantagem em tudo. A “Black Friday” brasileira, que alguns tentaram transformar em “black week” (na prática, continua valendo: ainda hoje, domingo, há dezenas de ofertas usando esse ‘nome de guerra’), virou motivo de piada internacional. Jornais americanos e europeus ridicularizaram a facilidade com que os comerciantes enganam seus clientes no Brasil, certos de que a chance de punição é quase nula. E, mesmo sabendo disso, as pessoas se entregam, alegremente até.

Assim como o halloween, o hamburguer e o hip-hop, brasileiros adotaram essa nova praga americana com todo entusiasmo. Poucos sabem o que significa “Black Friday”, mas tratam de aproveitar… Alguns até devem ter se dado bem, mas a maioria certamente só conseguiu congestionar os Procons. Correr para o Facebook e denunciar a enganação só faz amplificar a hipocrisia; todo mundo fica sabendo que você tentou, pela enésima vez, usar a Lei de Gerson – e quebrou a cara!

Mas fiquei intrigado mesmo com a forma como os gringos, a partir de fatos como esse, começam a nos enxergar. New York Times, Economist, Forbes, El País e até o mais que suspeito (por ser argentino) Clarín riem rasgadamente de nossas caras. Os mesmos turistas que chegam aqui e ficam extasiados com nossas mulatas, nossas praias, nossa música (a antiga, não a atual) e até nosso sol não entendem como um centro de excelência cultural (o Masp) se transforma em ponto de venda de drogas, bem em frente a um posto policial. Não lhes entra na cabeça que alguém condenado pelo principal tribunal do país continue exercendo mandato de deputado. Ou como motoristas e motoboys enlouquecem todos os dias em ruas, avenidas e estradas, transformando o Brasil em campeão mundial de mortes no trânsito.

Pois é, todos acham que estão levando vantagem.

Em tempo: o título se refere a uma canção de Marcos e Paulo Sergio Valle, dos anos 70, gravada por Elis Regina, um hino à raça negra.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Já disse um "zilhão" de vezes que o brasileiro tem a mania de condenar a esperteza dos outros, sentado em cima de sua própria "esperteza" que na maioria das vezes é bem mais simplória do que a dos comerciantes, banqueiros e políticos que nos exploram que se fartam..., por uma simples questão de cultura Latina pela subserviência ilimitada aos poderes políticos e religiosos que herdamos dos portugueses (exceto o idioma que é o mais bonito do mundo!!!)... Na verdade, quando o assunto é "Black fraude", não somos nós, os consumidores, que estamos querendo nos aproveitar da famigerada "Lei do Gerson". Quem usa e abusa dessa "Lei para os incautos" são as empresas e comerciantes que tentam, e sempre conseguem, passar a perna nos afoitos compradores de última hora, sabendo da completa impunidade nesse assunto e nos muitos outros que nos acometem, como pragas do Apocalipse, a todo instante... Vamos tentar resolver parte do problema nas próximas eleições, baseado nos "bons antecedentes" dos novos candidatos? Só se a "Carta de Referência" deles for assinada pelo próprio Deus, com firma reconhecida em Cartório...KKKKKKKKKKKKKK

  • Sou um provador desse gosto amargo chamado “Black Friday” onde esperei virar o relógio para sonhar em comprar
    algo por um preço mais justo (visto que moramos em um paiz faminto e insaciável por tributos).
    Desta vez os empresários desta falsa “Black Friday” foram novamente mais espertos pois abriram suas falsas promoções as 22 hs. temendo pela credibilidade perdida pela repercusão negativa da anterior pois nessa (acredito eu) poucos iriam se manter acordados para ter o gosto amargo que tive da passada talvez porque eu ao 50 anos ainda quis acreditar em papai noel.

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