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Um enrolado negócio de US$ 6 bilhões

Nesta quinta-feira, o conselho diretor da Sharp Corporation finalmente concordou em aceitar a proposta feita pela taiwanesa Foxconn: cerca de US$ 6 bilhões para assumir o controle do grupo. As negociações vinham desde o ano passado, e nas últimas semanas o mercado concluiu que esse era o melhor caminho para salvar a marca japonesa e seu enorme patrimônio. Mas faltava a concordância do board, que teve uma importante ajuda do governo japonês, interessado em estancar essa agonia.

Infelizmente, diz o The Wall Street Journal, se esqueceram de um “pequeno” detalhe: o Foxconn pode voltar atrás. Há uma lista de aproximadamente 100 dos chamados “itens de contingência”, o que é comum nesse tipo de negócio. Além dos US$ 6 bilhões, os taiwaneses teriam que assumir dívidas que somam mais US$ 3,1 bi, o que não tinha ficado claro antes. Assim, o negócio pode não ser concretizado: a diretoria do Foxconn pediu mais tempo para pensar.

O acordo com a Foxconn foi confirmado pelo ministro da Indústria do Japão, Motoo Hayashi. Reproduzo abaixo os principais itens da reportagem do WSJ, baseada em “fontes próximas ao assunto”, como eles costumam identificar. Quem escreveu foram três correspondentes do jornal no Japão, que geralmente são muito bem informados:

“… Embora o Foxconn tenha prometido resolver a pendência rapidamente e fechar o negócio, essa reviravolta é simbólica de como são complexas as negociações quando um investidor estrangeiro deseja adquirir o controle de um grupo japonês, em disputa com setores do governo local, que formaram um fundo para que o país não perca uma de suas marcas mais veneradas.

“O negócio vem sendo observado de perto, não apenas por suas implicações políticas (o Japão costuma proteger suas empresas contra tentativas de compra por grupos estrangeiros), mas também porque marca o fim de uma geração tecnológica: fundada há 103 anos, a Sharp foi pioneira no desenvolvimento da televisão e das calculadoras de bolso; a Foxconn, que tem apenas quatro décadas de existência, cresceu e se tornou gigante de US$ 120 bilhões graças a sua eficiência na produção e montagem de smartphones.

“Até o mês passado, a Foxconn – que tinha o nome de Hon Hai Precision Industry – era vista na mídia japonesa como “azarão” na disputa pela Sharp, bem atrás do INC (Innovation Network Corp), fundo criado pelo governo local em 2009 com o objetivo de salvar empresas de tecnologia em dificuldades financeiras. Mas os executivos da Sharp foram convencidos pela Foxconn, particularmente por seu presidente e maior acionista, Terry Gou. Além de oferecer mais dinheiro, ele visitou pessoalmente as fabricas da Sharp no Japão, conversou com banqueiros e acionistas, e garantiu que não haveria demissões e que o controle da tecnologia permaneceria em mãos japonesas.

“Depois de longas negociações, que começaram em 2012, em 30 de janeiro último Gou se comprometeu também a manter a Sharp Corp intacta, ao contrário do INC, que pretende dividi-la em várias empresas. Mas o relacionamento entre  Foxcon e Sharp vem sendo turbulento, com os japonesas inclusive acusando Gou de “falsidade”, quando anunciou que tinha prioridade na compra.”

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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