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Trump, CES e neutralidade da internet

Já está virando um péssimo costume: o chefe da FCC, equivalente americana da nossa Anatel, cancela na última hora sua participação da CES. Tudo estava agendado para dia 8, quando Ajit Pai daria sua primeira entrevista no evento (ele assumiu em março). Mas, cinco dias antes, e sem maiores explicações, a direção da Consumer Technology Association recebeu o aviso de que ele não irá a Las Vegas. 

A dedução imediata de quem acompanha esse mercado foi que Pai não queria enfrentar o público da CES, quase 100% formado por defensores ardorosos da chamada neutralidade das redes. É impossível escapar do trocadilho com o nome do executivo, o “pai” do projeto do governo Trump de acabar com essa conquista dos usuários de internet em todo o mundo. Em setembro, a FCC anunciou que iria rever a legislação, uma das promessas de Trump: as operadoras ficariam livres para tarifar e regular o acesso como bem entenderem, seja para uma Netflix ou para um anônimo usuário individual.

Imediatamente após o anúncio, mobilizaram-se as diversas entidades que defendem a neutralidade – na verdade, um conceito meio abstrato, pelo qual o acesso deve sempre ser livre. Incentivados por gigantes como Apple, Google, Facebook, Microsoft e cia., esses movimentos pressionaram a FCC a voltar atrás. Inútil: em dezembro, a Comissão votou conforme o projeto. A única esperança dos movimentos agora é que seja aprovado o impeachment de Trump, hipótese cada vez mais discutida nos EUA.

Mas, segundo Gary Shapiro, presidente da CTA, o motivo da ausência de mr. Pai na CES seria outro. Ele e sua família vêm sofrendo não só pressões, mas até ameaças de morte por causa de sua política na FCC, considerada muito favorável às grandes operadoras. Verdade ou não, este é o terceiro ano consecutivo em que o executivo-chefe da FCC (ou seja, a maior autoridade do país em telecomunicações) cancela presença na CES. Fica parecendo descortesia. Ou, quem sabe, medo de enfrentar as críticas.

Para quem se interessa pelo assunto, recomendo estas quatro visões diferentes sobre a neutralidade das redes:

Gigantes querem neutralidade da rede em benefício próprio

Pioneiros da internet defendem neutralidade

Teles tentarão acabar com a neutralidade das redes no Brasil

Neutralidade da rede deve permanecer intocada no Brasil

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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Orlando Barrozo

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