De tão inverossímil, tomo a liberdade de reproduzir aqui a reportagem do Washington Post que traz os detalhes:
“O grupo de médicos disse que não poderia aceitar, com a consciência tranquila, aumentos de salário enquanto as condições de trabalho permanecessem difíceis para alguns de seus colegas – incluindo enfermeiros e atendentes – e enquanto pacientes não têm acesso aos serviços exigidos por causa de cortes drásticos (no orçamento) nos últimos anos.
“Um sindicato de enfermeiros de Quebec tem pressionado o governo nos últimos meses a enfrentar o problema da falta de mão-de-obra, além de defender uma lei que reduza o número de pacientes que cada enfermeiro pode cuidar. O sindicato informou que seus filiados vêm sendo submetidos a crescente sobrecarga. Em toda a província têm ocorrido paralisações da categoria, em defesa de melhores condições de trabalho.
“Em janeiro, a situação ganhou destaque no Facebook, quando uma enfermeira chamada Émilie Ricard postou uma foto sua, em lágrimas, após uma noite de trabalho estafante. Émilie contou ter sido a única naquela semana a atender nada menos do que 70 pacientes por noite em sua seção; mostrava-se tão cansada que não conseguia dormir devido a cãibras nas pernas. “Esse é o quadro atual da enfermagem”, escreveu, criticando a ministra da Saúde da província de Quebec, que recentemente elogiou recentes mudanças no sistema de atendimento local.
“Não sei onde a senhora está obtendo essas informações, mas certamente não é a realidade dos enfermeiros”, escreveu Émilie, acrescentando mais tarde: ‘Sinto-me destruída pela minha profissão, envergonhada com a pobreza dos serviços que consigo oferecer. Meu sistema de saúde está doente, está morrendo’. O post teve mais de 55 mil compartilhamentos.
“Enquanto isso, em fevereiro a federação dos médicos de Quebec obteve acordo com o governo para aumentar os salários da categoria em 1,4%, aumentando os gastos públicos de US$ 4,7 para US$ 5,4 bilhões até 2023, segundo a rede de TV local CBC. O salário médio dos médicos em Quebec já é considerado alto: US$ 403.537 por ano, contra US$ 367.154 na província vizinha de Ontario.
“Na petição online recusando o aumento, o grupo de médicos insatisfeitos diz que seus salários parecem imunes aos cortes no orçamento. ‘Ao contrário do que diz o primeiro-ministro, acreditamos que existe uma maneira de redistribuir os recursos do sistema de saúde para promover o bem-estar da população e atender as necessidades dos pacientes’. A petição termina com um pedido para que o aumento seja cancelado e os valores remanejados para melhorar o sistema como um todo.
“A resposta do ministro da Saúde, Gaetán Barrette, foi lacônica: ‘Se eles acham que estando ganhando demais, que deixem o dinheiro sobre a mesa. Garanto que faremos bom uso’, afirmou à CBC.
Para nós aqui no Terceiro Mundo, fica a pergunta: quantos médicos brasileiros que ganham acima da média – e pode-se acrescentar ainda funcionários da burocracia estatal – estarão dispostos a abrir mão de seus aumentos de salário para aumentar a quantidade de enfermeiros e atendentes e a qualidade geral dos serviços? E quantos ministros e secretários da Saúde estão preocupados com a questão?
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