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Brasil velho ainda teme as importações

Minutos depois de redigir o post anterior, recebi a notícia: empresários brasileiros rejeitam a ideia sugerida pelo presidente Bolsonaro no domingo, de reduzir de 16% para 4% a tributação sobre importações de alguns eletrônicos. A medida incluiria os chamados Bits (Bens de Informática e Telecom) e os BKs (Bens de Capital). Em nota distribuída hoje à tarde, a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) alega que o tema deve ser tratado “com total transparência e de forma negociada com a indústria”. 

Até agora, tenho evitado comentar as sandices (que não foram poucas) do governo Bolsonaro, até porque pouco têm a ver com tecnologia. O ministério que cuida da área foi tão esvaziado que é quase como se não existisse. E essa declaração – ou melhor, tuíte – do presidente talvez seja sua primeira envolvendo o setor seis meses após a posse. 

Mas não deixa de ser sugestivo que, após a notícia de que empresas americanas exigem do presidente Trump que elimine barreiras às importações chinesas, no Brasil ocorra exatamente o contrário. Claro, são dois países muito diferentes. A diferença de atitude, porém, é sempre a mesma. Lá, critica-se o governo em carta aberta, às claras, tendo em vista os prejuízos que as tarifas representam para a economia e a população como um todo; aqui, critica-se o presidente por supostamente querer prejudicar um setor da economia.

Assim fica fácil entender a chiadeira. Nas últimas duas décadas, a indústria brasileira se acostumou a obter favores públicos em troca de apoio a campanhas eleitorais, sendo a extinta Lei do Bem o exemplo acabado dessa política. Mesmo com todos os subsídios e isenções, envolvendo inclusive a famosa “caixa preta” do BNDES, ainda é comum ouvir que o governo “destruiu” a indústria brasileira. (Para ser justo, vale lembrar que esses incentivos reeditaram os tempos da ditadura militar e do governo Sarney, quando imperava a Reserva de Mercado).

Recomendo a leitura da nota da Abinee (aqui) para provocar uma reflexão sobre qual política industrial e comercial queremos, de fato, para o país. E sem medo da concorrência, por favor.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Olá Sr. Orlando.Boa noite.Poderia enumerar as sandices (pelo menos algumas) do governo Bolsonaro?Tenho 65 anos,vivi no regime militar (ditadura é o nome dado pelos esquerdopatas) e a vida era muito melhor e mais segura.Estamos sendo roubados (e não só em $$$$) há 20 anos pelo menos.Assino sua revista desde a 4ª edição (as 3 primeiras foram compradas em banca) e nunca li queixas sua sobre os impostos escorchantes cobrados de eletrônicos nos governos de esquerda (eleitos democraticamente,menos o 2º mandato da dilmANTA)Tenho uma pequena empresa de venda de equipamentos e projetos de Home Theater e automação residencial(hoje em dia) desde dezembro de 1999 e não fechei ainda por gostar demais do que faço.Os governos de esquerda acabaram com o mercado de centenas senão milhares de produtos brasileiros com seus impostos de importação ridículos.O mercado hoje vive,se o Sr. não sabe, na sua maioria de produtos contrabandeados .Muito bom,cobramos impostos com alíquotas absurdas e não recebemos quase nada.Uma lei muito simples de economia de mercado:a indústria se tem competidores, ajusta-se ou morre,se não tem, nada de braçadas e engolimos porcarias nacionais.Desculpe pela longa conversa.Foi mais um desabafo.Grato.

    • Olá Nardelli, obrigado pela mensagem-desabafo. Acho que concordamos em muita coisa. Se você acompanhasse este blog, veria que desde o início, em 2008, venho criticando as políticas do PT, e não apenas na área econômica. Como não votei em Lula, nem Dilma nem Bolsonaro, o que mais lamento é os brasileiros serem tão incompetentes para escolher seus candidatos. Não acho que ser contra o PT significa ser a favor de Bolsonaro, nem vice-versa, porque as coisas são muito mais complexas do que isso. Ainda estou esperando para ver o que Bolsonaro irá propor para a economia além de uma reforma mutilada da Previdência - que ele mesmo, aliás, ajuda a derrubar com certas declarações. Não vi até agora nenhum plano sobre reforma tributária, trabalhista, política industrial, tecnológica e mesmo agropecuária. Nem sei o que ele pensa sobre os altos ganhos dos bancos. Sei também que nada disso ele conseguirá levar à frente se ficar perdendo tempo em briguinhas com o Congresso. Entre as sandices, para não me estender muito, posso incluir a questão da embaixada em Israel, as ameaças à China, as intervenções na Petrobrás, a balbúrdia no Ministério da Educação, os tuítes preconceituosos contra gays, negros e mulheres, a baixaria do Golden Shower, a participação dos filhos no governo... acho que já chega, não? E só temos 6 meses de governo!!! Mas vamos ser otimistas. Se ele conseguir reativar a economia e reduzir o desemprego, já poderemos comemorar. Temos que torcer. Mas, neste blog, não abro mão de criticar quando for o caso. Grande abraço!

  • Boa noite,Orlando.Continuo achando que o Bolsonaro foi eleito com promessas ,que tenta cumprir e não consegue .Confio e nunca me arrependo de confiar 100%
    na sua capacidade e conhecimento de Home Theater.Na política,discordamos, mas sem o contraditório o que seria da democracia,não acha?Em tempo:obrigado por responder.Abraços hometheaterianos.

    • Sim, claro, o contraditório é fundamental. Eu é que agradeço por suas palavras. Entre aqui sempre que quiser. Abs.

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Orlando Barrozo

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