Não sei se o título acima é exagerado, mas acabo de ler uma lista de aproximadamente 700 empresas e entidades americanas que estão se colocando contra o governo Trump. Mais precisamente, criticam sua insistência na política de “guerras comerciais” contra países antes parceiros. Elas assinam uma carta aberta enviada à Casa Branca, em que pedem a retirada das tarifas sobre produtos importados da China e o reinício das negociações com o país asiático para discutir suas práticas consideradas injustas.

Como se pode ver pela lista dos signatários, o movimento – que no início era restrito às empresas de tecnologia (vejam aqui) – se expandiu vigorosamente. Numa consulta rápida, encontrei fabricantes, varejistas e associações de pelo menos 30 segmentos: químicos, móveis, revestimentos, moda, embalagens, brinquedos, madeira, metais preciosos, farmácias, destilarias, joalherias, padarias…

Endossam a carta fabricantes de sucos, equipamentos de pesca, produtos para pets e até a Associação dos Revendedores de Lagosta do estado do Maine, grande produtor de frutos do mar!!! Aderiu também a nobilíssima Greeting Card Association, vejam só, que desde 1941 se dedica a estimular os negócios e a convivência entre pessoas, grupos e empresas. Entre as marcas mais conhecidas, estão Panasonic, Savant, AudioQuest e quase todas as grandes redes varejistas (Walmart, Costco, Target etc). 

Quem juntou essa turma toda foi a THtH (Tariffs Hurt the Heartland), ONG de empresários que se dizem punidos pela política comercial de Trump. Citando um estudo da consultoria Trade Partnership Worldwide, a carta afirma que a tarifa média proposta (25%) sobre as importações de produtos chineses (valor calculado em incríveis US$ 300 bilhões), somada às tarifas já em vigor, provocará o corte de 2 milhões de empregos, além de acrescentar US$ 2.000 por ano nos gastos de uma típica família americana de 4 pessoas.

No documento, o grupo ressalta que apoia os esforços de Trump contra práticas comerciais ilegais, incluindo aquelas relacionadas à propriedade intelectual e à transferência forçada de tecnologia. Mas condena a política de retaliações (tit-for-tat), que terá “impacto negativo significativo, e de longo prazo, na vida das empresas, fazendeiros e famílias”. 

E conclui: “Tarifas são impostos pagos diretamente pelas empresas americanas, incluindo as abaixo-assinadas, não pela China…. Sr. Presidente, exigimos que sua administração retorne à mesa de negociações e trabalhe em conjunto com nossos aliados para desenvolver soluções globais e viáveis. Uma escalada na guerra comercial não atende aos interesses do país, e os dois lados irão perder”. 

Fico aqui pensando se um dia um grupo de empresas ou entidades de classe, aqui no Brasil, conseguirá se unir para escrever nesses termos, e em carta aberta, ao presidente da República, seja este quem for. Nunca aconteceu. Preferem subsídios, isenções fiscais, linhas de crédito a juros camaradas (ou a fundo perdido) e conchavos de bastidor. 

1 thought on “Um país contra seu presidente

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