Bem, o projeto do governo estadual não só existia como já está em pleno andamento, apesar de centenas de manifestações contrárias de especialistas no assunto (este link traz os detalhes). A reação escalou quando se descobriu que exatamente ali, na altura da Praia do Futuro, fica o chamado “grande hub submarino” das Américas. No continente, o local é o ponto mais próximo da Europa e dos EUA, e por isso foi escolhido há anos pelo consórcio internacional que administra as redes de telecomunicações.
São, ao todo, 18 cabos como o da foto, que permitem a comunicação das três Américas (EUA inclusive) com o resto do mundo. Estão conectados a uma base montada a cerca de 20m da superfície, dali saindo cabos por outras bases em direção ao hemisfério norte, sempre pelo fundo do mar.
Segundo o governo cearense, a usina instalada na praia irá captar a água do mar e filtrá-la para abastecer a rede hídrica da região metropolitana. O risco, dizem as teles e vários pesquisadores que têm se manifestado pela mídia, é de que essa estrutura atinja os cabos de telecom, o que causaria pane nos sistemas de telecomunicação não só do Brasil como de todos os países envolvidos. Algo como um grande apagão de internet!
Não tenho condições de opinar sobre o tamanho desse risco. Mas bate uma espécie de vergonha alheia – mais uma, aliás – ao ver como funcionam alguns órgãos públicos no Brasil. Será que a Prefeitura de Fortaleza e a Cagece, estatal encarregada do projeto, não sabiam que bem ali havia um hub gigantesco? Estranho, porque o próprio governo do Estado cantou glórias quando a Praia do Futuro foi escolhida para receber o hub.
Neste domingo, em entrevista à Folha de São Paulo, o vice-presidente da operadora Claro, Fabio Andrade, diz que o projeto previa uma distância de apenas 5 metros entre os dutos de dessanilização e os cabos de telecom. 5m!!! Diante da gritaria, a Anatel – que até então também se mantinha muda sobre o caso – ordenou que a distância seja de pelo menos 500 metros. Mesmo assim, segundo Andrade, a vibração da água provocada pelo duto pode, a médio prazo, provocar até o rompimento dos cabos. “Com o crescimento da demanda, planejamos dobrar a quantidade de cabos em três anos. Para isso, seria preciso uma distância de, no mínimo, 1.000 metros”.
É de se imaginar a cara de americanos, ingleses, franceses, italianos e demais estrangeiros que confiaram esse hub aos brasileiros. Espero que não aconteça, mas se houver o tal “apagão da internet”, já sabemos quem são os responsáveis.
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