O mercado de streaming promete grandes mudanças este ano, a maior parte delas forçada pela crise financeira que vem se abatendo sobre alguns grupos de mídia. A aposta de que gigantes como Disney e Amazon derrubariam a Netflix já ficou para trás; por mais que a empresa do “N” seja antipática a muita gente, já não dá mais para deixar de considerá-la o maior fenômeno de mídia deste início de século 21.
Aqui nos EUA é acalorada a discussão, com muitos especialistas duvidando do próprio modelo de negócio que tem mantido as plataformas de streaming. Alguém errou feio nas contas ao prever que seria possível manter um ritmo de 8 a 10 lançamentos semanais, e gerenciar os pesados servidores CDN que essa máquina exige, apenas com as receitas das assinaturas. Parece claro agora que o bolo não é tão grande para ser repartido entre tantos concorrentes.
Seja por má gestão de conteúdos, estratégias erradas de marketing ou medo de arriscar mais, o fato é que Disney+ e HBO Max (que este ano passa a ser apenas “Max”) não conseguiram decolar como previam seus executivos. Ambas patinam na faixa dos 13% de market-share, contra 20% (na média) do Prime Video e persistentes 30% do Netflix, segundo o JustWatch.
Será que o negócio de streaming é viável?
Traduzidos em número de assinantes ativos, esses percentuais representam bilhões de dólares a menos no caixa de grupos que investiram muito nos últimos anos tentando superar o líder. A corda dos acionistas e dos credores apertou a tal ponto que, internamente, já se discute nas empresas se o negócio de streaming é realmente viável no médio prazo.
Não é por acaso que o grupo Warner Discovery (dono do HBO Max) está negociando uma fusão com o Paramount+. Ou que Disney+ e Prime Video estão partindo – por enquanto ainda não no Brasil – para o esquema “fast”, jargão da indústria para o streaming sustentado por publicidade. Após o Netflix adotar essa fórmula no ano passado (e, de quebra, bloquear o compartilhamento de senhas entre assinantes), vê-se agora que a Amazon quer seguir o mesmo caminho. Não será surpresa se logo essa passar a ser a regra.
Se o leitor pensou que as assinaturas tendem a ficar mais caras, acertou. Como no Netflix atual, a tendência é criar categorias de assinantes em que pagam menos aqueles que aceitam anúncios entre os filmes e entre os episódios de séries. Quem quiser manter a comodidade que atraiu tanta gente para o streaming terá que pagar mais caro.
Devem voltar também os combos (bundles, em inglês), como o que Netflix e Max acabaram de inaugurar no mercado americano: clientes da operadora Verizon pagam apenas 10 dólares pelos dois serviços combinados! No Brasil, funcionaria assim: uma operadora como Claro ou Vivo ofereceria um combo contendo, digamos, 4 serviços de streaming por um valor inferior ao de uma assinatura convencional. O assinante poderia montar seu pacote (com algumas restrições).
Banda larga, algoritmos e games
Essas inovações, que dez anos atrás eram impensáveis, se tornaram possíveis com a evolução das tecnologias de vídeo online e a adoção generalizada da Inteligência Artificial. Algoritmos cada vez mais “espertos” hoje dão conta dessa mágica, que inclui aprender a interpretar com mais precisão os comportamentos do assinante. Contribui também a proliferação das redes de banda larga nos grandes centros urbanos, que no Brasil representam 80% do mercado consumidor.
Ah! Sim, os games. Como vimos aqui na CES, as plataformas estão começando a incluir jogos em seus menus, seja via assinatura separada ou simplesmente cobrando um adicional na assinatura comum. Como a Netflix, sempre ela, já faz.
Em paralelo, deverão se fortalecer os serviços de streaming segmentados: esportes, gastronomia, infantis, viagens… quem gosta muito, muito mesmo, de um desses conteúdos não se importará em pagar um pouco mais para tê-los na hora e no dispositivo mais conveniente.
Será mesmo? Bem, assim acredita boa parte dos analistas americanos. Aguardemos os próximos episódios.
Para quem quiser entender melhor esse mercado, sugiro três links em português:
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Em terra de streaming, quem tem mídia física é rei... não troco por nada!
A melhor solução para isto, na minha opinião, é Download dos vídeos, pois ai cada um paga por cada download ou por uma quantidade de downloads por mês, garante mais qualidade de imagem e som, reduz o uso de banda ao mesmo tempo, reduz a "pirataria" de filmes em outras plataformas "genéricas" e simplificaria tudo.
Com isto também será possível permitir som 5.1 lossless (DTS-HD MA por exemplo), vídeos UHD 4K sem interrupção ou queda de qualidade por falta de banda... tem várias vantagens técnicas.