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Áudio: para quem quer ouvir

Recomendo a todos a leitura de um novo artigo de Robert Harley, editor da bíblia do áudio high-end, The Absolute Sound, e autor de vários livros sobre o assunto. Harley não é audiófilo xiita, ao contrário, está sempre aberto a inovações; mas, como muitos, sente-se incomodado com a perda de referências entre os usuários, especialmente no campo do áudio, que é a sua paixão. Já conversei com ele a respeito, e compartilho algumas de suas opiniões. Na verdade, essa falta de referência tem raízes diversas, inclusive o próprio crescimento da indústria de entretenimento e (dentro dela) da indústria eletrônica.

A partir dos anos 70, a cultura geral no mundo foi sendo empobrecida pela voracidade do negócio chamado entretenimento, em suas várias formas. No caso específico do áudio, os números de vendas de discos e os contratos cada vez mais milionários assinados pelos artistas resultaram em perdas consideráveis do ponto de vista do talento – e não dá para deixar de acrescentar, aqui, um toque saudosista: os grandes gênios da música, infelizmente, já morreram ou deixaram de produzir. Em troca, ganhamos uma quantidade maior de discos, alguns até muito bem produzidos tecnicamente, mas sem a mesma criatividade artística (é claro que há exceções, como em tudo na vida).

O avanço tecnológico acrescentou uma certa dose de crueldade nesse processo, com a digitalização substituindo a música analógica a tal ponto que, por exemplo, um baterista hoje pode gravar seu disco sem nem sequer pegar nas baquetas – basta dominar a “arte” da programação eletrônica e acionar alguns botões. Para o usuário final (ou seja, o fã de música), o lado mais visível – ou audível – disso tudo é o MP3 e suas variantes formas de compressão do sinal. Ouvindo meus discos gravados num iPod, com um bom fone de ouvido, consigo ainda perceber – num concerto de Mozart, um solo de John Coltrane ou mesmo uma balada dos Beatles, por exemplo – nuances e sutilezas que às vezes não transpareciam nos respectivos CDs. Mas atribuo isso, sem falsa modéstia, a décadas ouvindo atentamente música de qualidade, inclusive em shows ao vivo, com equipamentos apropriados. Quem só ouve MP3, e tem os ouvidos “treinados” nas danceterias da vida, não consegue imaginar o que isso significa.

Bem, chega de nostalgia, pelo menos por hoje. Leiam o artigo sem preconceitos e depois me contem o que acharam.

Orlando Barrozo

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige a revista HOME THEATER, fundada por ele em 1996, e os sites hometheater.com.br e businesstech.net.br. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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  • Muito bom o Artigo recomendado. Concordo com as colocações do autor. Penso que a massificação do mercado de entretenimento serviu para banalizar os movimentos culturais, e em relação à música não é diferente. Vivemos no tempo em que "quanto mais, melhor". E isso em todas as áreas. Não se pára (sem reforma ortográfica, por favor: aqui sou mais "conservador") mais para prestar atenção na riqueza do aúdio de boa qualidade. Particularmente, prefiro a qualidade à quantidade, embora não seja totalmente avesso às novidades e inovações tecnológicas (também tenho o meu mp3player). De qualquer forma, confesso que nunca me adaptei muito bem àquela coisa de enfiar fones de ouvido no tímpano, afora a qualidade sofrível do áudio em arquivos comprimidos. Abraço.

  • CONSERVADOR,sim, em relação à essa tal compressão da música e mp3. É um atentado aos ouvidos.

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Orlando Barrozo

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