Está em todas as redes: Adolescência, nova série da Netflix, é campeã mundial de repercussão. Não é por acaso. Tudo foi rigorosamente planejado para colocar em debate uma das questões mais importantes deste século: a influência das mídias sociais no comportamento dos adolescentes. É um programa obrigatório, não só para quem tem na família crianças ou jovens dessa faixa etária, mas para todo mundo que se preocupa com o assunto.

Obrigatória também para quem gosta de tecnologia, pois a série é um primor de realização. Roteiro, cenários e elenco foram definidos com rigor técnico e planejamento detalhado. Para executá-lo como imaginaram, os produtores Jack Thorne e Stephen Graham (este também ator principal) convenceram a Netflix a dividir a história em quatro episódios de aproximadamente 50 minutos – considerado o tempo ideal para utilizar o recurso chamado single-shot (em português, “plano-sequência”).

Hitchcock, Welles e Scorsese

Trata-se da técnica de rodar todas as cenas em sequência, sem cortes, algo já usado em clássicos do cinema como Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, e A Marca da Maldade (1956), de Orson Welles; e em produções recentes como Birdman (2014) e 1917 (2019). Para cada episódio, a equipe de Adolescência teve pelo menos três semanas de preparação, segundo Graham.

“Não há qualquer tipo de montagem”, garante o diretor de fotografia Matthew Lewis, peça-chave na produção, que utilizou uma câmera da marca chinesa DJI, mod. Ronin 4D, especial para uso com drones. Sim, na época de Hitchcock (e mesmo em 1990, quando Martin Scorsese usou esse recurso em Os Bons Companheiros), não havia drones. Mas eles, como mostra este vídeo, são fundamentais nas brilhantes sequências de ação de Adolescência.

 

A Ronin 4D, que pesa 4,67kg, já vem com estabilizador de precisão (que pesa 1kg) e sua lente de foco automático enquadra qualquer alvo em movimento, além de fazer reconhecimento facial e corporal. Em certos trechos da série, é difícil acreditar nas manobras da câmera, que mesmo em movimento não perde foco nem nitidez por um segundo que seja. Todas as ações dos atores e posicionamentos de câmera foram cuidadosamente estudados e ensaiados, inclusive os momentos cruciais em que havia dois operadores para uma mesma câmera, que era passada de mão em mão sem perda de continuidade.

Tão realista que parece documentário

Enfim, temos aí um exemplo de como a tecnologia pode ajudar a construir grandes produtos (e grandes obras de arte) quando a ideia original é boa e bem executada. Todo esse esforço e o talento dos realizadores foram colocados a serviço de contar uma história que não é baseada em um caso real, mas que às vezes parece um documentário, pois inspirada em fatos do cotidiano de qualquer cidade contemporânea.

Além dos quatro episódios da série, vale a pena ver também os vários vídeos de making of – como este – que a Netflix vem distribuindo no YouTube e nas redes sociais, além de entrevistas do elenco e equipe de produção. É uma série que quem assiste não irá esquecer tão cedo.

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