Em meio à avalanche de notícias sobre Inteligência Artificial, especialmente após a mudança de postura das big techs em sua adesão ao governo Trump, me chamou a atenção artigo da excelente newsletter americana The Algorithm, especialista na matéria. Tratava de uma questão pouco falada, mas que pode se tornar crucial no desenvolvimento dessa tecnologia: a crise energética.
Ainda que negacionistas estejam no comando de alguns governos, e trabalhando contra a mãe natureza, não é preciso ser cientista para perceber o perigo. E o alerta vem dos cientistas do MIT, colaboradores da revista Technology Review: os novos modelos de IA avançada, como ChatGPT e Gemini, consomem muito mais eletricidade que seus antecessores. De onde virá essa energia? E quem irá pagar por ela?
Saiu esta semana a notícia de que a China construiu nos últimos anos cerca de 500 datacenters para dar conta do volume de tráfego gerado pela IA; foi um exagero: ao final de 2024, somente 150 dessas instalações estavam plenamente ativas, pois a demanda havia sido superestimada, gerando prejuízo financeiro e um absurdo consumo de energia. E esse é apenas um exemplo. Só neste ano, a Microsoft está investindo US$ 80 bilhões em datacenters. É uma preocupante bola de neve (este artigo, em inglês, explica por quê).
Há estudos calculando que a IAG pode consumir até 33 vezes mais que os softwares convencionais. E, segundo a Agência Internacional de Energia, haverá um aumento de 4% no consumo mundial até 2027, provocado em grande parte pelo uso crescente da IAG. Só os datacenters já existentes são responsáveis por até 1,3% do consumo mundial de eletricidade!
IAG: melhores respostas, maior consumo de energia
A discussão é interessante quando se nota que ferramentas e dispositivos de IAG são incansáveis “bebedores” de energia. Técnicos do MIT identificaram, por exemplo, que o DeepSeek, modelo chinês que causou alvoroço no começo do ano (vejam aqui), utiliza uma técnica de processamento chamada chain-of-thought (“cadeia de pensamento”). Quando o usuário apresenta uma questão complexa, o algoritmo a divide em várias partes e responde cada uma em separado.
Esse método exige muito mais eletricidade do que Google Gemini e ChatGPT, por exemplo. Mas as novas versões desses dois concorrentes do DeepSeek seguem padrão similar, ou seja, tornam-se mais rápidas e eficientes nas respostas, só que a um custo energético bem mais alto.
As questões que o site levanta são cruciais: quem irá pagar por isso? As plataformas de IAG assumirão os custos? Ou passarão a cobrar do usuário? E este, topará pagar? Mais importante ainda: será que vale a pena? Se você pensar em aplicações como medicina e saúde, por exemplo, em que os cientistas buscam novas curas para doenças, OK. Mas quando se vê IAG sendo usada para mera diversão, é natural que o mercado questione. Este link traz mais explicações.
Quanto tempo levará até que todo esse investimento se pague? Ou, refazendo a pergunta: será que o planeta aguenta? Não é à tôa que gigantes como Google e Amazon já analisam o uso de energia nuclear para alimentar seus datacenters. Mas aí, de novo, quem pagará a conta?