Terminei há pouco de ler um livro chamado “The Chips”, que conta a história da invenção que muitos consideram a mais importante do século 20: o circuito integrado, também chamado “microprocessador”, “microchip” ou simplesmente “chip”. Fiquei encantado ao descobrir inúmeros detalhes que, apesar de meus quase 30 anos nessa área, me eram desconhecidos. O livro remonta aos primeiros estudos do matemático inglês George Boole, no século 18, antecipando a era da informática e da digitalização. E por aí vai.

É um livro excelente, embora escrito em 2001, ou seja, dez anos atrás – e quanta coisa aconteceu nestes dez anos! Não consegui encontrar uma tradução em português, o que é uma pena. Mas tem um defeito grave: o subtítulo “Como dois americanos iniciaram uma revolução mundial”. Sim, a invenção do chip é oficialmente atribuída a Robert Noyce, co-fundador da Fairchild e da Intel, e Jack Kilby, da Texas Instruments, que inclusive ganhou um Nobel por isso. E o trabalho de uma série de pesquisadores americanos sem dúvida foi decisivo para a revolução que todos estamos presenciando e experimentando. Mas o subtítulo é típico de um povo que gosta de se atribuir poderes acima do resto da humanidade.

A propósito, lembro de uma história – ou seria piada? – que me foi contada por um professor, muitos anos atrás: a principal diferença entre o brasileiro e o americano é que este, quando vai abrir um botequim, coloca uma placa na fachada dizendo “este é o melhor botequim da cidade”; o brasileiro coloca uma placa dizendo apenas “botequim”.

Pois é, agora que estão experimentando a mais longa crise econômica dos últimos anos (mais de 14 milhões de desempregados, segundo os dados mais recentes), os EUA começam a rever seus conceitos. Sim, há uma campanha nacional para que todos comprem produtos “made in USA”, mas as cabeças pensantes do país – a começar do próprio presidente Obama – utilizam um tom diferente ao analisar a situação. Há um senso mais aguçado de autocrítica, como que percebendo que tratar os outros países como seres inferiores, ou incapazes de gerir os próprios destinos, não é a melhor forma de fazer amigos e influenciar pessoas, como diria o velho Dale Carnegie, o papa da autoajuda.

Nos últimos meses, li diversos artigos – sem falar em incontáveis posts em blogs, no Twitter e no Facebook – de americanos se autocondenando pela falta de uma visão global, em plena era da globalização, que por sinal foram eles que começaram. Recomendo abaixo alguns sites e blogs que tratam do assunto sem aquele americanismo xenófobo à la George Bush:

Don Tapscott, escritor e estudioso do uso da tecnologia na educação;

Seth Godin, escritor e professor, especialista em novas mídias;

Clay Shirky, jornalista e expert em internet e redes sociais;

Nicholas Carr, escritor preocupado com o efeito da internet sobre o comportamento e a cultura;

Open Forum, agregador de artigos sobre empreendedorismo, com foco em marketing e tecnologia;

Mark Levy, escritor e especialista em inovação;

Ethan Zuckerman, fundador do movimento Global Voices Online e ativista político via internet.

Bem, a lista é apenas o começo. A cada dia descubro mais ideias e pessoas interessantes e de vez em quando vou repassá-los aqui. Vejam, são todos americanos e críticos da suposta “superioridade” de Tio Sam sobre o mundo. Zuckerman, por exemplo, foi quem disse que os jovens egípcios que derrubaram seu ditador deram uma lição aos EUA (que gastaram bilhões e perderam milhares de vidas para invadir o Iraque). Ontem mesmo, li este artigo de um cara chamado Andy Marken comentando as propostas de Obama sobre inovação tecnológica.

É isso: vivendo e aprendendo, sempre.

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