Ao ler um artigo na revista americana CE Pro, sob o irônico título “Igrejas são a salvação do integrador”, lembrei de uma conversa que tive, anos atrás, com o dono de uma empresa paulista de projetos eletrônicos corporativos. Bem, primeiro é bom explicar a que se refere o artigo. Nos EUA, o chamado mercado HOW (Houses of Worship) é uma mina de dinheiro há anos, alimentada pela enorme quantidade de donativos que os “fiéis” depositam nos templos quase todos os dias – muito mais do que no Brasil, embora nosso país esteja crescendo nesse ranking. E os integradores de sistemas eletrônicos americanos encontram nesse segmento um dos que foram menos afetados pela recessão econômica dos últimos anos.

Para se ter ideia, uma pesquisa da revista Commercial Integrator revelou que 95% dos integradores americanos fizeram pelo menos duas instalações em igrejas ou templos no ano passado. E não foram projetos básicos: 16% deles ficaram acima da casa dos US$ 250 mil. Para atrair e manter a atenção dos fiéis, bispos e pastores sabem que precisam investir em novas tecnologias – de áudio, vídeo, ar-condicionado e por aí vai. Apesar da crise, a maioria (62%) dos integradores diz que este ano deve faturar ainda mais do que em 2010. É, em suma, um segmento altamente profissionalizado, que atende aos mais de 50 mil templos existentes no país.

Lembrei-me do integrador brasileiro porque ele, há cerca de dez anos, tentava me explicar a razão de o Brasil, mesmo com a explosão das igrejas evangélicas, não possuir ainda um mercado comprador para sistemas eletrônicos. Claro, ninguém pode esperar que tenhamos aqui nos números dos EUA. Mas, segundo esse profissional, o mercado aqui existe, sim, mas com características completamente distintas. Além dos valores serem mais baixos, quase todo o dinheiro que circula nesses ambientes é ilegal e/ou circula por baixo dos panos. Se, nos EUA, cada templo é, na prática, uma empresa (e, portanto, precisa prestar contas ao fisco), aqui a maioria – talvez todas – simplesmente manipula a seu bel-prazer os dízimos de suas vítimas, digo, de seus fiéis. Sem qualquer fiscalização, muito menos prestação de contas, torna-se um risco prestar qualquer tipo de serviço para esses clientes, digamos, muito especiais. A chance de entregar e não receber é altíssima. E quando se fala em documentar o negócio (via contrato de prestação de serviços, por exemplo), os bispos fogem como o diabo da cruz (com o perdão do trocadilho).

Temos aí, portanto, mais uma história para a coleção de particularidades bem brasileiras que inibem a profissionalização do mercado. Mesmo com toda reza do mundo, aqui a igreja está longe de ser a salvação.

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