Uma das discussões mais mal conduzidas dos últimos tempos no Brasil é essa sobre o tráfego de dados nas redes e a tão comentada “neutralidade” da internet. E um dos factóides lançados a respeito é a ideia de obrigar as empresas estrangeiras a manter seus bancos de dados em solo brasileiro. Pura coisa de quem não entende nada do assunto, ou está querendo “fazer espuma”, como se diz atualmente.

Conversando com alguns especialistas em segurança de redes (que naturalmente não podem ser identificados), a conclusão é que, pela enésima vez, estão misturando tecnologia com política (ou politicagem), um coquetel em que o país só tem a perder. Tecnicamente, a ideia de monitorar os bancos de dados das empresas – estamos falando de Google, Facebook, Amazon, Microsoft etc. – é de uma ingenuidade atroz. O que faria um funcionário do governo que porventura tivesse acesso a essas informações? Iria copiá-las numa grande central de armazenamento? Quem construiria essa central? Com quantos funcionários especializados? E quantos computadores? Servidores? Quais softwares seriam usados? Quanto tempo se levaria para montar essa estrutura? E de onde sairia o dinheiro para financiá-la e mantê-la funcionando sem panes?

Acho que não preciso responder, certo? Agora, do ponto de vista político, uma ideia como essa só faz sentido como lorota a ser vendida, via marketing, numa campanha eleitoral, quando o índice nacional de mentiras atinge níveis astronômicos. Transformar Google, Facebook e cia. em “inimigos do país”, ou “agentes do selvagem capitalismo ianque” pode até render cliques nas redes sociais – aliás, todas elas controladas por empresas estrangeiras; mas não vai tornar ninguém mais seguro.

Se alguém quiser entender um pouco melhor essa farsa, sugiro os textos e vídeos abaixo:

Governo não tem como fiscalizar bancos de dados

Marco civil obriga empresas a manter dados no Brasil

Dados vão gerar R$ 20 bilhões para as teles até 2018

Google retira serviços de internet do Brasil

Associação denuncia lobby das operadoras para controle da internet

Provedores e operadoras divergem sobre neutralidade

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