contraste2.bmpAcostumado a lidar com fichas técnicas de equipamentos, levei um susto outro dia ao ver num site de vendas as especificações de um TV LCD Samsung: taxa de contraste de 30.000:1. Fui checar modelos de outras marcas e encontrei os números mais variados: de 5.000:1 até 15.000:1. Nos EUA, a própria Samsung já anunciou um modelo com 100.000:1. E a Sony garante que os novos OLED chegam a 1.000.000:1.

São valores enganosos – como, aliás, as maioria das especificações fornecidas pelos fabricantes, pois cada um faz a medição de acordo com os métodos que mais lhe convêm. Infelizmente, o consumidor não tem como checar dados como esse.

Meu amigo e consultor para assuntos de displays e projetores, Paulo Sergio Correia, já explicou isso várias vezes. A taxa de contraste é calculada através de um procedimento complexo. Serve para indicar os níveis máximos de branco (imagem mais clara) e preto (imagem mais escura) que um display ou projetor consegue atingir. Há dois tipos de medição. O chamado contraste estático é calculado com a imagem parada, medindo ao mesmo tempo os dois níveis (mais brilhante e mais escuro), enquanto o contraste que se convencionou chamar de “dinâmico” – uma necessidade surgida após a popularização dos displays LCD – é medido em duas etapas: primeiro o branco, depois o preto (método também chamado “Full-On/Full-Off”).

Isso, na verdade, é um truque criado pelos fabricantes para encobrir o fato de que a tecnologia LCD, por definição, produz imagens menos contrastadas. O método aceito pela maioria dos experts como mais correto para medir o contraste é o método ANSI (do American National Standards Institute), em que a tela é dividida em 16 retângulos brancos e pretos (como num tabuleiro de xadrez, daí o nome em inglês “checkerboard”). Com a mesma imagem e a sala totalmente escura, mede-se então a máxima luminosidade nos retângulos claros e a mínima nos retângulos escuros.

A taxa de contraste é o número obtido com a divisão da primeira pela segunda. Assim, quando se diz que um display tem taxa de 1.000:1, significa que a luminosidade média obtida nos retângulos claros foi mil vezes mais alta que a obtida na média dos retângulos escuros.

O problema é que cada fabricante utiliza o método que quiser – e geralmente não explica isso ao consumidor. Exatamente por isso, na redação da revista HOME THEATER decidimos ignorar a especificação do contraste, que ultimamente vem gerando mais confusão do que qualquer outra coisa. A menos que possamos, nós mesmos, realizar a medição.

Faz lembrar uma antiga polêmica do mercado de áudio, quando os fabricantes entraram numa verdadeira guerra de números para especificar a potência dos equipamentos. Alguns alardeavam 5.000 watts!!! Na verdade, um aparelho que libere 50 watts já produz volume de áudio suficiente para encher uma sala de 20m2

A diferença estava no método de medição. Aqueles fabricantes usavam o célebre PMPO (também chamado “potência dinâmica”). Mas o correto é usar a medição RMS (que ficou conhecida como “potência real”).Viram como a palavra “dinâmico” está sendo usada, de novo, enganosamente?

Para quem quer se aprofundar no tema, sugiro estes links:

http://webstore.ansi.org/RecordDetail.aspx?sku=IEC+61988-2-1+Ed.+1.0+b%3a2002

http://www.practical-home-theater-guide.com/contrast-ratio.html

http://www.mediacollege.com/lighting/contrast-ratio/

http://www.adrenaline.com.br/forum/archive/index.php/t-177888.html

http://www.htmlstaff.org/ver.php?id=16555

2 thoughts on “Taxas de contraste: ficção?

  1. Interessante esse seu esclarecimento sobre o contraste, pois eu mesmo, que já possuo uma tv de LCD, full-HD, da Samsung, com taxa de contraste de 15.000/1, fui surpreendido com a venda de tv, idêntica a minha, com taxa de 30.000/1. Fiquei me perguntando como isso é possível, uma vez que, em pouco tempo, a taxa de contraste praticamente dobrou! Será que a taxa informada na minha tv é verdadeira?

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