A propósito do post anterior, sobre o debate do próximo dia 4 de agosto, convém lembrar que a iniciativa de colocar frente a frente duas empresas cuja rivalidade é histórica tem a ver com a postura, também histórica, da revista HOME THEATER & CASA DIGITAL desde os tempos em que se chamava apenas HOME THEATER. Lembro de várias discussões com leitores que insistiam para que a revista desse opiniões mais taxativas, quando se tratava de comparar produtos, marcas ou tecnologias. “A revista fica sempre em cima do muro”, chegaram a escrever alguns. Houve até aqueles que, por desconhecimento ou má-fé (ou as duas coisas), nos acusaram de sermos “vendidos”, citando inclusive publicações estrangeiras que costumam ser agressivas ao analisar produtos. Deveríamos seguir esse exemplo, é o que dizem.

Essa é uma polêmica antiga, e hoje vitaminada pela internet. Dias atrás, conversava com um amigo jornalista, cujo Twitter já passa dos 30 mil seguidores, que se dizia revoltado com algumas mensagens. Escondidos atrás do muro do anonimato propiciado pela web, meia-dúzia de covardes – a definição não é minha, mas de figuras muito mais conhecidas, como Arnaldo Jabor e Augusto Nunes – agem como ladrões que atacam na calada da noite. Sabem que não podem ser identificados e, portanto, usam um espaço que não lhes pertence para ofender, acusar e tudo mais.

Evidentemente, não há muito o que fazer a respeito. Essa é uma atitude típica – embora não exclusiva – do brasileiro. Lembra aquela outra, talvez mais comum, de procurar culpados sempre do lado de fora, nunca dentro da própria casa. Ou aquela, pior ainda, de tentar levar vantagem em tudo. Um sintoma visível é querer que outros tomem decisões em seu lugar, como resumiu genialmente mestre Millôr Fernandes: “A maior aspiração do povo é a suprema liberdade de não decidir coisa nenhuma”. Fica mais fácil exigir que alguém diga “compre isto, não compre aquilo”, ou “vote neste, não vote naquele”, do que pesquisar, refletir e tirar suas próprias conclusões. Pensando bem, essa é a causa (uma delas, pelo menos) de termos no Brasil os políticos que temos, pois muitos votam em “salvadores da pátria”, não em pessoas que possam representá-los. Deve ser também por que recebemos aqui produtos e serviços de tão má qualidade. A maioria escolhe mal, ou nem escolhe, para depois por a culpa em alguém.

Com todo respeito àqueles que honestamente pensam o contrário (e sei que há muitos), não acho que o papel de uma revista ou de um blog seja dizer “tal produto é melhor do que aquele outro”. É muito simplismo. Qualquer julgamento do gênero implica uma série de variáveis, sendo a mais importante: o que é bom para mim não é necessariamente bom para você. No caso da nossa HOME THEATER, decidimos desde o início – no já distante ano de 1996 – que procuraríamos fornecer ao leitor o máximo possível de elementos para que fizesse seu julgamento e tomasse sua decisão; não iríamos decidir por ele. Foi o que fizemos, recentemente, ao comparar os TVs 3D com tecnologia ativa e passiva. E vamos continuar fazendo.

Se alguém acha que, ao destratar determinados produtos ou marcas, uma publicação ganha credibilidade, só posso recomendar que reveja seus conceitos. Assim como os políticos, há muitos jornalistas (e hoje especialmente blogueiros) que criam dificuldades para vender facilidades. Uma crítica contundente pode ser perfeitamente trocada, na semana ou no mês seguinte, por um anúncio ou até mesmo um brinde. Para evitar essas armadilhas, uma boa estratégia é: leia muito, mas assimile o que ler com moderação.

 

 

 

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