O roubo ao hangar da TAM, em Viracopos, nesta terça-feira, só confirma as suspeitas da Apple. Desde os tempos de Steve Jobs, executivos da empresa evitavam fazer negócios no Brasil, temendo a insegurança jurídica e o excesso de burocracia. De certo, não contavam também com a insegurança física, que agora se configura. Um grupo armado invadiu o galpão da TAM, onde estavam armazenadas caixas contendo centenas de aparelhos Apple, entre computadores, tablets e smartphones. A carga era avaliada em R$ 3,5 milhões. Tudo foi levado pelos assaltantes, que renderam os funcionários da empresa aérea.

O site americano The Next Web, mantido pela Apple, repercutiu a notícia com preocupação, o que é natural. Roubos e outras violências não acontecem só no Brasil. Mas a falta de segurança, à qual todos somos submetidos diariamente, é mais um dos fatores que compõem o chamado “Custo Brasil”. Segundo os economistas, esse indicador seria a soma de todas as despesas pagas pelas empresas para poderem fabricar e/ou importar um produto. No caso de quem fabrica, a lista inclui encargos trabalhistas, custo de manutenção de fábrica, logística de distribuição, transporte e assistência técnica, além dos tributos que atingem todas as empresas; neste ponto, aliás, o Brasil inovou ao criar os impostos em cascata, algo que as maiores ditaduras do planeta ainda não conseguiram copiar (ou não tiveram coragem de).

Já para empresas importadoras, há os custos relativos ao processo tecnicamente conhecido como “internação”, que inclui uma complexa burocracia, recheada de taxas, guias e demais complicadores. Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial (vejam aqui) colocou o Brasil entre os piores países do mundo nesse aspecto. Analisando cerca de 180 nações onde esses dados podem ser medidos, o Fórum chegou à conclusão de que nosso país ocupa as seguintes posições:

144° lugar em excesso de regulação

144° lugar em efeitos nocivos da tributação

135° lugar em desperdício

130° lugar em facilidade para abrir uma empresa

121° lugar em confiança nos políticos

111° lugar em eficiência do governo

Não é por acaso, portanto, que o novo iPad Mini, lançado hoje pela Apple nos EUA ao preço de US$ 329, chegará aqui por algo entre R$ 1500 e R$ 1.800, ou seja, duas a três vezes mais caro. Já comentamos o assunto em outros posts; no Brasil tudo é absurdamente mais caro, da comida aos supérfluos, das bugigangas aos bens duráveis, das viagens aos aluguéis. Há quem diga que a causa seja a ganância das empresas, e é difícil negar esse argumento, em alguns casos. Mas, a meu ver, as causas principais se localizam em duas áreas: a governamental e a comportamental.

De um lado, temos um governo que a cada dia aperfeiçoa sua máquina de arrecadação, criando novas taxas e tributos e, ao mesmo tempo, fingindo que não vê a corrupção e as extorsões cometidas por fiscais e agentes do Estado. Mais ainda: gastando onde não devia e deixando de cuidar da infraestrutura, que poderia tornar os produtos muito mais baratos. Ou alguém duvida que os cerca de 1.400 itens roubados em Viracopos irão chegar ao mercado, via camelôs e vendedores “alternativos”?

Do outro lado, temos a própria atitude da população que, como bem apontou o antropólogo Roberto da Matta, assume duas posturas diferentes, conforme a situação. Ou aceita, submissa, a imposição de mais tributos, taxas e custos burocráticos; ou até gosta de pagar mais caro, chegando a se orgulhar disso, como se fosse prova de status.

Seja qual for a verdade, estamos roubados!

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