“Na semana passada, pela primeira vez em muitos anos, parei meu carro num sinal vermelho e não peguei o celular. É raro. Toda vez que paro, vou ‘checar o celular’, como dizem por aí. Checar o celular não significa necessariamente verificar se há emails, mensagens de texto ou algo nas redes sociais. Na maioria das vezes, significa simplesmente checar para ver se existe alguma coisa para ser checada”.

Assim começa um artigo no site da revista americana The Atlantic, comentando uma nova lei aprovada no estado da Geórgia: usar o celular ao dirigir, seja para falar ou “checar”, agora é proibido. Mesmo que o aparelho esteja fixado no painel, o motorista não pode mais ajustar o GPS (Waze, Google Maps etc.) nem trocar a música que está ouvindo no Spotify. Se quiser fazê-lo, deve estacionar num local permitido. 

Pois é, o autor do texto (Ian Bogost) mora na Geórgia e confessa humildemente ter infringido a lei de trânsito inúmeras vezes – por exemplo, digitar enquanto dirige já é proibido desde 2010, escreve, assim como permitir que pessoas menores de 21 anos dirijam com celular a bordo. Bogost conta que começou a pensar mais sério no assunto quando seus filhos tiraram licença de motorista: como impedi-los de levarem seus celulares quando saem de casa?

Agora, ele promete ser mais disciplinado. E apoia a nova lei, não apenas porque deve evitar milhares de acidentes que têm sido registrados no Estado graças à perversa combinação motorista-celular, mas também para estimular as pessoas a pararem com essa mania, já compulsiva, de ficar olhando no celular a toda hora. 

No Brasil – pelo menos em São Paulo, onde moro -, a quantidade de motoristas usando celular já é tão assustadora que, às vezes, você sente o impulso de pegar o seu só para não chamar atenção! Duvido que uma lei como essa da Geórgia pegue por aqui; aliás, duvido que algum parlamentar ou otoridade se digne a apresentar sequer um projeto. 

Aí, quando ocorre um acidente, colocam a culpa no pobre Martin Cooper, que inventou o celular na década de 70 e cuja história conto no meu livro Os Visionários – Homens que Mudaram o Mundo através da Tecnologia. Cooper, hoje com quase 90 anos, não pensava que sua criação fosse usada por motoristas em trânsito. Quanta ingenuidade!

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