Ao contrário da maioria, não gosto de filmes em que a grande estrela é a enxurrada de efeitos especiais. Em alguns, tem-se a impressão de atores bestificados com tantas traquinagens visuais, que, na falta de uma boa história, servem como mera exibição tecnológica. Infelizmente, essa parece ser a regra, não a exceção, atualmente. Por mais que, aos olhos de hoje, os efeitos visuais do passado pareçam toscos (e alguns eram mesmo…), ainda prefiro Fred Astaire subindo pelas paredes em Núpcias Reais (1951, vejam o trailer) do que qualquer super herói com rabo de cometa ou roupa de robô. 

Com a pandemia, presumo, o pessoal da computação gráfica deve estar trabalhando bem mais. Afinal, os atores não podem se aproximar, certo? Mas um evento realizado no Rio de Janeiro em junho, a feira VFXRio, trouxe especialistas estrangeiros para mostrar como é possível continuar produzindo filmes, séries e programas de TV sem abrir mão dos cuidados impostos pela COVID. Reportagem da Folha de São Paulo no último domingo foi a campo para descobrir como produtores, roteiristas, atores e atrizes estão conseguindo exercer seu ofício assim, digamos, a distância.

A saída, pela enésima vez, está na tecnologia. Na Globo, atores de novelas contracenam protegidos por divisórias de acrílico; estas, naturalmente, refletem parte das imagens, o que se corrige depois, na mesa de edição. Tão perfeito que, na tela, não se percebe divisória alguma. O problema surge quando há vários atores e/ou atrizes envolvidos, ou externas com dezenas de figurantes. Bingo! A tecnologia atual já dispõe de recursos para afastar ou aproximar digitalmente as pessoas.

Vale lembrar que, com o uso crescente de câmeras 4K (e, no futuro, 8K), certas tomadas de cena podem ser feitas nessa resolução, permitindo aproximar a imagem até quatro vezes, pois o que o público verá em casa não será 4K, impossível na TV aberta ou fechada. Ou será? Com o avanço do streaming, 4K tende a ser cada vez mais uma exigência.

A mesma reportagem mostra o trabalho da produtora paranaense Oger Sepol, que está trazendo ao Brasil uma tecnologia baseada em painéis de LED que simulam cenários reais. O sistema utiliza realidade virtual e técnicas de videogame para combinar os cenários com a iluminação ambiente e a movimentação das câmeras, de tal forma que a cena já sai dali pronta, reduzindo muito os custos de pós-produção.

E, bem, para quem ficou curioso, a cena mágica de Fred Astaire dançando pelas paredes foi realizada com um truque até banal: a câmera girava enquanto o maior dançarino do cinema flanava sobre cenários pré-montados. Na época, nem existia computador.

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