Experimente digitar no Google a palavra “fone de ouvido”. Em 90% dos itens que aparecem na busca há referência a fones intra-auriculares, os chamados in-ear, ou earbuds, que são os mais comuns hoje em dia. Sim, são os que a maioria prefere – e os que mais agridem as duas fabulosas maquininhas que todos temos ladeando a cabeça.

Pela forma como a maioria dos terráqueos trata seus ouvidos, talvez não seja exagero afirmar que esse é o órgão mais agredido do corpo humano. Além dos ruídos usuais da vida urbana (gritos, telefone, televisão, eletrodomésticos, carros, motos, buzinas, britadeiras, bate-estacas…), alguns são obrigados a conviver com ruídos, digamos, profissionais. É o caso dos músicos, técnicos de som e grande parte do pessoal da área de eventos.

DORMINDO COM UM INIMIGO: O FONE DE OUVIDO

Outro dia, um amigo queria dicas para escolher um fone de ouvido e se surpreendeu quando eu disse para evitar os earbuds. Como assim? Além de geralmente mais baratos, eles são mais práticos de usar e – teoricamente – bloqueiam os ruídos externos, já que a cavidade auditiva fica vedada.

Bem, essa é a teoria. Mas, segundo o dr. Paulo Lazzarini, professor da Faculdade de Medicina e Santa Casa (SP) e membro da Sociedade Brasileira de Otologia, há dois problemas no uso desses fones. O primeiro é que eles ficam muito próximos do canal auditivo, que acaba sendo mais afetado quando se ouve música (ou qualquer som) em volume acima do normal.

Outro problema, que pode parecer banal, está no fato de que o usuário tira e coloca o fone várias vezes durante o dia. “O atrito constante aumenta o risco de inflamação, além da questão da higiene, já que o fone acaba empurrando a secreção (cera) natural do ouvido mais para o fundo”, explica Lazzarini.

Pior, diz ele, é que a maior parte dos usuários não controla adequadamente os longos períodos usando fones nem os níveis de volume. “Já tive pacientes que dormiam com o fone”, acrescenta ele, lembrando que, para quem ouve sempre em volume muito alto, e por horas seguidas, o estrago é garantido, independente do tipo de fone que utiliza.

CANCELAMENTO DE RUÍDOS PODE SER ILUSÓRIO

E há uma pegadinha adicional. A maior parte dos fabricantes anuncia fones com “cancelamento de ruídos externos”, quando na verdade a eficiência desse recurso não é igual em todos os modelos. O noise-cancelling é obtido através de um sensor que pode ou não executar bem o trabalho.

Basta comparar um fone profissional ou do tipo aviation com um barato, desses que se vendem aos montes na internet. Acreditem, já fiz o teste: a diferença é abismal.

Lazzarini e vários outros especialistas recomendam o uso dos fones tipo “concha” (over-ear), que abafam os ruídos externos e não ficam tão próximos dos tímpanos. Considerando que 17% dos adultos e 12,5% das crianças e adolescentes já sofreram danos permanentes na audição devido à exposição excessiva a ruídos (dados dos EUA), tomar esses cuidados pode salvar muita gente pelo mundo afora.

A propósito, este link no site brasileiro da Shure, um dos principais fabricantes de fones profissionais do planeta, é imperdível para quem se preocupa com o problema. Traz inclusive um pequeno guia de autoavaliação, que permite ao usuário identificar até que ponto está sujeito a esses males todos. Veja lá qual é o seu caso.

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