Já vi discussões a respeito, em pequenos grupos, mas parece que a questão da luminosidade em painéis de TV está se tornando polêmica. Na verdade, o que era para ser uma solução começa a se transformar em problema. Num evento recente, a Panasonic USA reuniu jornalistas especializados para conhecer a Company3, hoje o mais importante laboratório de pós-produção de filmes em Hollywood. E lá os repórteres puderam apurar segredos até então jamais tornados públicos.
Um deles, Tom Parsons, da revista britânica What HiFi?, detalhou o encontro que foi pensado para demonstrar as qualidades dos painéis OLED Panasonic, usados como referência na Company3. Até aí, normal, vários fabricantes promovem esse tipo de encontro como forma de demonstrar seu domínio sobre determinados campos da tecnologia. Só que os técnicos da C3 falaram abertamente sobre um problema que a indústria em geral divulga como “grande evolução”: o brilho cada vez mais intenso das telas de TV.
Antes de contar os detalhes, é importante citar que a C3 foi fundada por Stefan Sonnenfeld, conhecido em Hollywood como o “DaVinci do cinema”. O laboratório está por trás de alguns dos maiores sucessos dos últimos anos: Barbie, Pobres Criaturas, Guerra dos Mundos, Top Gun e as cinesséries Star Wars, Star Trek, Velozes e Furiosos, Missão: Impossível e Piratas do Caribe, entre inúmeros outros. Possuem os equipamentos mais avançados para processamento e colorização de imagens e – por óbvio – alguns dos coloristas mais respeitados, que atualmente trabalham somente com monitores OLED Panasonic.
São esses profissionais que recebem as imagens brutas dos filmes e séries de TV e executam a chamada finalização, trabalho minucioso que envolve delicados ajustes de contraste, brilho e tonalidade das cores. Dois deles – Siggy Ferstl e Cody Baker – explicaram todo o processo, acrescentando comentários ácidos sobre produtores de filmes e fabricantes de equipamentos.
Já há alguns anos temos visto TVs especificados com luminosidade superior a 2.000 nits, que é a unidade básica de luz para análise de displays. A própria especificação Dolby Vision cita compatibilidade com imagens de até 10.000 nits! Pois os dois especialistas garantem: ninguém precisa de mais de 1.000 nits para identificar uma boa imagem, mesmo aquelas captadas sob sol a pino.
“Aquilo deixa a gente cego”, comentou Ferstl sobre um novo monitor OLED da Panasonic especificado em 4.000 nits. “Fico com dor de cabeça trabalhando com esse aparelho”. Ferstl deu um exemplo prático: está encarregado de duas novas séries da Netflix, uma com picos de 250 nits e outra com 750. E Baker lembrou ter trabalhado num episódio de Star Trek em que uma cena de nave no espaço exigia 1.000 nits. “Mas nunca acima disso”, garante.
Já o diretor técnico da C3, Mike Chiado, com 27 anos de experiência na área, chega a contestar o uso que normalmente se faz da tecnologia HDR (High Dynamic Range), da qual D.Vision é uma das variações: “Para nós, HDR não tem a ver com brilho, mas com escuridão. As empresas continuam produzindo TVs cada vez mais brilhantes, mas não precisamos disso. Seu único efeito é deixar as pessoas cegas”.
Para quem quiser se aprofundar no assunto, este é o link da reportagem da What HiFi. E a dica que me parece útil a consumidores e também instaladores é relevar a questão do brilho quando forem ajustar seus equipamentos. Esse é um exemplo claro de “quando menos é mais”. Contraste, profundidade e nitidez (sem exageros) das cores são itens muito mais importantes para definir uma boa imagem.