Até meses atrás, o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) era uma referência para o governo. Toda vez que algum ministro – ou o próprio presidente – queria validar uma decisão polêmica, citava um estudo do órgão, como se este fosse acima de qualquer suspeita. De fato, trata-se de um dos principais centros de estudos que temos no país, com profissionais de alto nível e (até onde sei) independentes para fazer o seu trabalho.

Mas, de repente, não mais que de repente, parece que as coisas não são bem assim. O último estudo do IPEA sobre a situação dos aeroportos brasileiros em preparação para a Copa de 2014 (vejam aqui a íntegra) caiu como uma bomba no Palácio do Planalto, que nem tinha sido avisado a respeito (claro, se tivesse, mandaria suspender a publicação). Como tantos outros estudos do Instituto, esse confirma o que todos já sabemos: a situação dos aeroportos é simplesmente desastrosa, e tende a ficar pior à medida que a Copa se aproxima. Há ingerências de todo tipo, contas mal explicadas (vetadas inclusive pelo Tribunal de Contas da União), problemas com o Ibama, cartolas de futebol querendo tirar sua casquinha… Tudo isso está ali, claro como água pura, num relatório recheado de números que os pesquisadores do IPEA levaram meses para coletar. E números, como se sabe, não mentem. Agora, o Planalto tenta desqualificar o estudo como se não fosse do IPEA, e sim de um de seus pesquisadores, em caráter pessoal (leiam aqui). Essa é boa…

Bem, mas por que cito aqui esse assunto, que pouco ou nada tem a ver com tecnologia. Primeiro, para defender o IPEA, órgão que já fez importantes análises sobre o mercado de telecom, com dados que deveriam ser melhor aproveitados pelas empresas e pelo próprio governo (se este quisesse). Sim, durante parte do governo Lula tentaram cooptar seus técnicos para a “causa socialista”, com seu ex-presidente, Marcio Pochmann, servindo de “camarada”. Mas, felizmente, esse tempo passou. E, pensando bem, vai ver que é por isso mesmo: o atual governo, como o anterior, está forrado de gente que detesta ouvir verdades. Como já dizia o falecido senador Jefferson Peres, “a verdade é a maior inimiga dos canalhas”.

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