Depois de alguns dias de “recesso”, forçado por problemas particulares, aqui estou de volta tentando recuperar o tempo perdido. Assuntos para comentar não faltam, e infelizmente nem todos são motivo de alegria. Mas, como já dizia mestre Millôr Fernandes, a função do jornalista não é fazer rir; essa é prerrogativa intransferível do humorista. Jornalista existe para apontar os problemas, questionar os poderosos e ajudar as pessoas a refletir sobre o país e o mundo em que vivem. Se conseguir isso, já terá feito um grande bem à humanidade.

Então, vamos lá. O assunto do dia é a possível fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour, arquitetada em segredo pelo empresário Abilio Diniz. Não tenho condições nem pretensões de avaliar a questão sob o aspecto empresarial. Parece mais uma disputa entre sócios, em que cada qual garante ter razão e que, pelo visto, irá acabar na Justiça. O que me preocupa são alguns detalhes envolvendo o negócio. Primeiro, claro, a participação do governo. Permitir que o BNDES financie as pretensões do sr. Diniz – notoriamente alguém que não precisa de financiamento público – é mais um absurdo de um governo desconectado da realidade e que se considera acima do bem e do mal. O argumento de que se está favorecendo uma empresa nacional para comprar uma multinacional lembra as artimanhas usadas na fusão entre a Telemar e a BrasilTelecom, que acabaram resultando na Oi. Foram mais de R$ 6 bilhões de dinheiro público jogado numa ação entre amigos.

Embora o governo Dilma tente se diferenciar de seu antecessor, as semelhanças são mais evidentes que as diferenças. Vide o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que com a maior desfaçatez afirma que “dinheiro do BNDES não é dinheiro público”. Experimente você, caro leitor que é empresário, pedir a esse banco um financiamento, pequeno que seja. Se não tiver amigos no poder, vai ficar esperando sentado. Esse é o conceito que gente como Pimentel faz do dinheiro que sai (de onde mais?) do bolso do contribuinte.

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